
"A operação humanitária em Moçambique enfrenta grandes contratempos. Até o final de abril de 2025, apenas 664.000 pessoas - cerca de 61% da população-alvo em Cabo Delgado --- haviam recebido alguma forma de assistência, representando uma queda de 17% em relação às 802.000 pessoas alcançadas no mesmo período em 2024", lê-se num relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
As novas movimentações de extremistas no norte de Moçambique incluem Niassa, província vizinha de Cabo Delgado, onde, desde a sua eclosão em 29 de abril, provocaram pelo menos duas mortes: dois guardas florestais decapitados.
De acordo com o organismo da ONU, estas reduções refletem um declínio mais amplo na capacidade operacional, além de prejudicarem "significativamente" a resposta, "especialmente na prestação de ajuda multissetorial".
"O financiamento caiu quase 12%, de 52 milhões de dólares [45,5 milhões de euros] em 2024 para 46 milhões de dólares [40,2 milhões de euros], enquanto o número de parceiros humanitários caiu drasticamente --- de 66 para apenas 48, uma redução de 35%", refere-se no documento.
Segundo o OCHA, grande parte do progresso atual foi impulsionado pelo Cluster de Segurança Alimentar e Meios de Subsistência, um mecanismo de coordenação humanitária gerenciado pela ONU, particularmente a ajuda alimentar.
"No entanto, devido à escassez de financiamento, as distribuições de alimentos ocorreram a cada dois meses e fornecem apenas 39% da ingestão calórica necessária ao beneficiário. Quando a ajuda alimentar é excluída da análise, o número de pessoas beneficiadas cai para 245.000", explica.
Aquela agência das Nações Unidas avança que a situação se complica ainda mais quando se considera a assistência multissetorial, onde apenas 188.000 pessoas receberam apoio simultâneo em Saúde, higiene e Abrigo, "enquanto 162.000 crianças beneficiaram de serviços de educação, nutrição e proteção à Criança".
"Esses números ressaltam as lacunas na prestação, de ajuda abrangente e vital", acrescenta o relatório.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.
LYCE // APL
Lusa/Fim