Um corte generalizado no abastecimento elétrico deixou na segunda-feira toda a Península Ibérica e algumas zonas de França sem eletricidade durante várias horas, sem que sejam ainda conhecidas as causas.

Em várias zonas de Portugal, o dia foi marcado por comércio e restauração fechados, farmácias sem poder vender medicamentos, trânsito intenso e ruas sem semáforos.

O que pode causar um apagão?

As causas mais comuns estão relacionadas com fenómenos extremos como tempestades, relâmpagos ou ventos fortes. No entanto, à hora do apagão, as condições meteorológicas não apresentavam nenhum destes fatores.

Outra coisa que pode provocar apagões é quando há falhas nas centrais elétricas, nas linhas de distribuição de energia, nas subestações ou noutras partes do sistema.

Como é que a energia é restabelecida?

Depois de um corte generalizado de energia, é preciso fazer o que se chama de 'black start' para reiniciar a rede elétrica a partir do zero.

Este processo é feito de forma gradual na medida em que cada central é ligada à rede uma a uma, ou seja, não são ligadas todas ao mesmo tempo.

Mas afinal, o que provocou o apagão na Península Ibérica? Ataque informático?

Na terça-feira, a empresa responsável pela gestão da rede elétrica de Espanha descartou a possibilidade de o apagão ter sido provocado por um ciberataque à companhia.

"Com as análises que podemos realizar até agora, podemos descartar um incidente de cibersegurança nas instalações da Red Elétrica", disse o diretor de operações da Red Elétrica de Espanha (REE), Eduardo Prieto, numa conferência de imprensa em Madrid.

Pouco tempo depois, o juiz do Tribunal Nacional espanhol José Luis Calama anunciou que tinha iniciado uma investigação preliminar para apurar se o apagão pode ter sido um ataque informático às infraestruturas críticas espanholas.

Já ao início da tarde, o primeiro-ministro espanhol veio dizer que se mantinham em aberto todas as hipóteses.

"O Governo de Espanha vai chegar ao fundo deste assunto" e, perante as conclusões, vai fazer reformas e adotar as medidas necessárias "para que não volte a acontecer", assim como "exigir todas as responsabilidades pertinentes aos operadores privados", assegurou Pedro Sánchez

Energias renováveis?

A presidente da empresa que gere a rede elétrica de Espanha, Beatriz Corridor, desvinculou a alta penetração de renováveis do apagão.

"Relacionar o incidente tão grave de segunda-feira com a penetração das renováveis não é verdade, não é correto", disse a presidente da empresa Red Eléctrica (REE), numa entrevista à rádio Cadena Ser.

Beatriz Corredor realçou que as renováveis funcionam já "de forma estável", com "mecanismos que já lhes permitem operar praticamente como uma tecnologia, digamos, convencional".

"Não há um problema de quanta geração [de renováveis] entra, já operámos o sistema em condições muito mais extremas de renováveis a entrar no sistema sem qualquer problema de segurança", acrescentou.

A presidente da REE destacou que a geração de energia com fontes renováveis tem "índices de penetração excecionais" na Península Ibérica, com dias em que responde a todo o consumo de eletricidade.

"Operamos o sistema em condições de alta penetração das renováveis nos últimos anos de forma habitual", afirmou, antes de realçar que não houve na segunda-feira "nenhuma circunstância diferente das habituais na geração de renováveis e de interconexão".

Beatriz Corredor sublinhou que as renováveis "não são a causa" do apagão e que "o 'mix'" de geração de energia com renováveis "é seguro" e "pode participar em todos os sistemas de segurança do sistema elétrico".

Red Eléctrica diz que identificou "mais ou menos" as causas

Na mesma entrevista à rádio Cadena Ser, Beatriz Corridor disse que as causas continuam a investigar-se, mas que estão "mais ou menos localizadas", sem dar mais detalhes.

A presidente da Red Eléctrica realçou que é preciso analisar "milésimo a milésimo de segundo o comportamento do sistema para saber que geração em concreto se desligou e quando".

"São milhões de dados, recebem-se sinais a cada milésimo de segundo", insistiu, para explicar o motivo para não haver ainda uma conclusão.

Comité vai investigar causas do apagão

A Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade anunciou que vai criar um comité para investigar as causas do apagão "excecional e grave".

A organização disse que vai "investigar as causas essenciais, elaborar uma análise exaustiva e avançar com recomendações num relatório final" e que também será feito um relatório que vai apresentar de maneira exaustiva todos os detalhes do incidente.

Com Lusa e Reuters