Luanda, 27 jul (Lusa) - A Festa da Kianda, um ritual tradicional de adoração à protetora de pescadores em Angola, termina hoje na província do Bengo, após dois dias de súplicas para que haja mais peixe na Lagoa do Ibendoa.

Kianda, termo do quimbundo que quer dizer "sereia" em português, é definida na cultura angolana como um ser mítico, deusa das águas, que deve ser venerada com oferendas para proteção dos pescadores e para uma boa faina.

Reza a lenda que Kianda habitava nos rochedos perto da praia do Bispo em Luanda, quando um dia resolveu mostrar a um pescador um tesouro conhecido apenas por si, que o tornou rico inesperadamente.

O espírito egoísta daquele pescador fez com que a Kianda se arrependesse de o ter ajudado, jurando nunca mais fazer o mesmo, pelo que passou a enfeitiçar todos os homens que se aproximassem das águas, com o seu canto singular.

Os angolanos acreditam que em cada meio aquático - mar, rios, lagoas e charcos - está presente uma sereia.

Na Lagoa do Ibendoa, a 22 quilómetros da cidade de Caxito, na província do Bengo, rica em cacussos e bagres, há cerca de três anos os habitantes daquela região reclamavam a escassez desse tipo de peixes devido à falta de cerimónias tradicionais.

O assunto foi tema de um trabalho jornalístico, cujo autor foi vencedor de um prémio local de jornalismo no Bengo.

Em Luanda, a Festa da Kianda está prevista para o início de novembro, período em que decorre igualmente a festa da Ilha do Cabo - mais conhecida por Ilha de Luanda - como disse à Lusa o soba Miguel Francisco João, mais conhecido por "soba Miguelito".

A mesma fonte contou que na Ilha o ritual é cumprido com a montagem de uma mesa, na Baía de Luanda, com todo o tipo de géneros alimentícios, enquanto batuques e danças tradicionais completam a festa.

A cerimónia prossegue com uma procissão no mar, onde é espalhada a comida servida à mesa, para satisfazer a Kianda.

"Fretamos uma lancha na capitania, levamos todas as comidas que comemos, damos uma volta no mar, quase a chegar à Chicala (praia do Bispo, junto à ilha do Cabo), e deitamos a comida no mar, enquanto tocamos o batuque, que é a procissão tradicional", explicou aquela autoridade tradicional, salientando que depois do regresso a festa prolonga-se por oito dias, até que "os espíritos se acalmem".

NME // VM

Lusa/Fim