"O MpD repudia totalmente as suspeitas lançadas pelo PAICV em torno dos resultados eleitorais. Além de demonstrar ser um mau perdedor, o que o PAICV revela com essas declarações é um total desrespeito pelos cabo-verdianos", disse em conferência de imprensa a secretária-geral do Movimento para a Democracia, Filomena Delgado.

Na sexta-feira, o vice-presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), João Batista Pereira, anunciou que o seu partido vai levar a tribunal o MpD e o Governo por alegados ilícitos eleitorais que considerou influenciarem e condicionarem a votação.

Em reação, a porta-voz do MpD disse que os cabo-verdianos não são manipuláveis, sublinhando que se o PAICV ficou surpreendido pelos resultados eleitorais a responsabilidade é exclusivamente sua.

"Enquanto o MpD governava e retirava Cabo Verde da crise económica em que o PAICV nos colocou, o partido liderado por Janira Hopffer Almada fazia uma política de terra queimada nunca reconhecendo as dificuldades que milhares de cabo-verdianos estavam a atravessar e os sinais positivos que iam surgindo. Nem em período de pandemia o PAICV se colocou ao lado do país, tendo mesmo uma posição negacionista colocando em risco a vida dos cabo-verdianos", criticou.

Para a secretária-geral do partido no poder, o PAICV continua a "prestar um mau serviço à democracia cabo-verdiana". "Os cabo-verdianos merecem mais respeito. A vontade popular manifestada nas eleições foi a vontade de um povo livre com capacidade de decidir o seu futuro", afirmou.

Para o MpD, o partido na oposição deve aprender a lição e "abandonar a política populista, irresponsável e sem sentido de Estado" dos últimos anos.

"Do lado do MpD o nosso compromisso com os cabo-verdianos mantém-se focado no futuro e na estabilidade. Venceremos a covid, relançaremos a economia para voltar a gerar emprego e criar condições de melhoria de vida para todos os cabo-verdianos", concluiu.

Na altura, o vice-presidente do PAICV apontou atos e omissões da administração do Estado, considerando que não foi isenta e não garantiu a necessária neutralidade exigida para as eleições em Cabo Verde.

Para o porta-voz do PAICV, o partido vencedor das eleições legislativas, através do Governo, da administração pública, empresas e institutos públicos, delineou e executou um "detalhado plano para captação do voto".

Assim, apontou um conjunto de decisões do Governo que entende "subvertem as bases da democracia" no país, como a nomeação de gestores públicos após a publicação do decreto presidencial que marca a data das eleições, nomeação de dirigentes do seu partido para o Banco de Cabo Verde, Bolsa de Valores ou Parque Tecnológico.

O PAICV denunciou ainda que o Governo pagou dívidas de água e energia a família vulneráveis, doou sementes, pesticidas, materiais de irrigação e rações aos agricultores e criadores de gado dentro do período proibido pelo Código Eleitoral.

"Na verdade, a questão que aqui deve ser colocada é claramente a seguinte: para onde vai a democracia cabo-verdiana, se o próprio Estado não respeita as leis?", questionou o dirigente, para quem o seu partido não põe em causa os resultados eleitorais, mas garantiu que vai lutar para que não seja posta em causa a democracia cabo-verdiana.

Segundo o mapa com o resultado total da eleição de 18 de abril publicado pela CNE, o MpD obteve 110.211 votos, o que corresponde a 50,04% do total, e elegeu 38 deputados, enquanto o PAICV conseguiu 87.151 votos, equivalentes a 39,57%, ficando com 30 deputados.

Já a União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) teve 19.796 votos, que corresponde a 8,99%, tendo conseguido quatro deputados, todos pelo círculo eleitoral de São Vicente.

Concorreram ainda o Partido do Trabalho e da Solidariedade (PTS), Partido Popular (PP) e Partido Social Democrático (PSD), mas não conseguiram votos suficientes para eleger deputados à Assembleia Nacional de Cabo Verde.

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