De acordo com informação da instituição consultada hoje pela Lusa, a intervenção no "emblemático" monumento, um obelisco na forma de pássaro construído há cerca de 40 anos e que segundo alertas locais apresenta várias fissuras, será feita no âmbito do Plano de Reabilitação e Restauro dos Bens Patrimoniais.

Acrescenta que o restauro do monumento, que invoca a travessia que por estes dias comemora cem anos na ilha de São Vicente, "estava previsto para 2020", mas que devido à pandemia de covid-19 foi adiado.

"Está incluído nos monumentos de arte urbana, com valor simbólico e artístico localizado em todos os municípios de Cabo Verde, alvo do levantamento georreferenciado no quadro do inventário nacional do património cultural", refere o IPC.

Na quarta-feira, questionado pelos deputados sobre o estado de degradação daquele monumento, em pleno centro da cidade do Mindelo, o ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente, garantiu no parlamento que avançará uma intervenção a curto prazo.

"Uma equipa do IPC já fez uma primeira avaliação para uma intervenção", afirmou o governante.

Denominada oficialmente como "Estátua do Pássaro", trata-se de um monumento do género "comemorativo" e uma "obra de embelezamento", segundo informação do IPC, erguido "para comemorar a passagem por Mindelo, em 1922, dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral na sua travessia do Atlântico sul".

O hidroavião "Lusitânia" fez história em 1922 ao ligar o Atlântico, mas a passagem dos "aviadores" Gago Coutinho e Sacadura Cabral por São Vicente permanece na memória daquela ilha cabo-verdiana. Além de ter sido a primeira travessia aérea do Atlântico sul, foi também o primeiro voo que Cabo Verde recebeu.

No final do dia 05 de abril de 1922, o hidroavião Fairey III D Mkll -- o primeiro de três usados naquela histórica travessia - amarou na baía do Mindelo, ilha de São Vicente, depois de uma viagem de 10 horas e 43 minutos para percorrer 1.572 quilómetros, desde as Canárias, que tinham sido a primeira paragem após a saída de Belém, Lisboa, em 30 de março.

Um marco que deixou algumas "pegadas" em São Vicente, na forma de monumentos, mas as condições destas obras têm vindo a motivar preocupação naquela ilha.

Há cem anos, aos comandos do hidroavião seguiam Gago Coutinho, experiente cartógrafo da Marinha, e Sacadura Cabral, piloto com larga experiência, conhecimentos complementares e tidos como decisivos para o sucesso de uma viagem com, no total, cerca de 8.300 quilómetros, chegavam ao Mindelo.

Segundo os relatos da altura, os dois aviadores portugueses foram recebidos, triunfantes, pela população da ilha de São Vicente.

As autoridades municipais mandaram mesmo construir um padrão no local onde aportaram, na baía, e edificaram outro cerca de dez anos depois.

Com o imponente obelisco "Poss" de fundo, aquela área, junto à baía do Mindelo, ficou mesmo conhecida como a "avenida dos aviadores", tal foi a importância do feito de ambos, recebidos em 06 de abril de 1922 na Câmara Municipal da cidade, que se reuniu em sessão solene para os homenagear publicamente.

Em São Vicente, Gago Coutinho e Sacadura Cabral permaneceram mais de dez dias, em reparações do hidroavião "Lusitânia". A etapa seguinte foi curta, até à Praia, ilha de Santiago, e aconteceu em 17 de abril, com 315 quilómetros percorridos em pouco mais de duas horas. Pouco mais do dobro do tempo das ligações aéreas atuais, cem anos depois.

Os dois aviadores deixaram Cabo Verde - ilha de Santiago - em 18 de abril de 1922 para o troço mais longo da viagem. Levaram 11 horas e 21 minutos para percorrer os 1.682 quilómetros até amarar no arquipélago de São Pedro e São Paulo, um conjunto de pequenos ilhéus rochosos do estado brasileiro de Pernambuco, mas ainda a quase 1.000 quilómetros da costa continental.

Ali trocaram para o Fairey N.º 16, batizado de "Pátria", mas este sofreu uma avaria no motor em 04 de maio, na viagem a caminho do arquipélago de Fernão de Noronha, e os aviadores foram forçados a amarar de emergência.

Já no terceiro hidroavião, o Fairey N.º 17, batizado "Santa Cruz", Gago Coutinho e Sacadura Cabral chegaram ao Rio de Janeiro em 17 de junho de 1922, o destino final.

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