A decisão surpreendeu o ministro da Presidência do Conselho de Ministros que disse à Lusa não existir qualquer bloqueio à ilha, devido à pandemia de covid-19.

Fidelis Magalhães adiantou que o ministro da tutela ia dar instruções nesse sentido aos responsáveis portuários.

Questionado pela Lusa, o ministro da Presidência do Conselho de Ministros manifestou surpresa, por não existir qualquer limite nos transportes de pessoas e carga entre Díli e Ataúro.

"A ilha de Ataúro está aberta e os transportes devem estar a decorrer na normalidade. A única restrição que se aplica agora é em Oecusse porque há uma cerca sanitária. Medidas como fechar Ataúro carecem de uma decisão do Conselho de Ministros", disse.

Posteriormente, Fidelis Magalhães disse ter contactado o ministro dos Transportes e que José Agustinho da Silva ia dar instruções às autoridades portuárias e demais para que as viagens possam decorrer com normalidade.

"As regras mantêm-se e não há qualquer bloqueio nas viagens para Ataúro", salientou Fidelis Magalhães.

Inicialmente, fonte oficial do Ministério dos Transportes disse à Lusa que o ministro tinha decidido que não podia haver transporte de passageiros de e para a ilha, sem adiantar qualquer justificação para a medida, que deixou dezenas de pessoas e carga em terra.

"O ministro decidiu que não pode haver transporte de passageiros", disse aquela fonte.

As atuais regras do estado de emergência em vigor devido à covid-19 não impõe qualquer restrição no transporte público de pessoas, exceto para o enclave de Oecusse, sob cerca sanitária até meados de janeiro.

Ataúro teve a última ligação de 'ferry' com Díli em 26 de dezembro -- normalmente havia duas ligações semanais -, não havendo ainda data para a próxima viagem, com o 'ferry' Nakroma parado por avaria, e a ser substituído pelo Success nas ligações para Ataúro e Oecusse.

Na sequência da decisão do Ministério dos Transportes foi apenas autorizada a realização de uma viagem com bens essenciais, na sexta-feira, entre Díli e Oecusse, sem passageiros.

"Estávamos com dezenas de bilhetes vendidos em Díli, de pessoas que precisam de voltar a casa e dezenas de bilhetes vendidos em Ataúro de pessoas que, depois do Natal, precisam, de voltar a Díli para trabalhar", explicou o proprietário do Success, Sansão Gomes, à Lusa.

"Estamos sempre prontos para fazer a viagem desde que tenhamos autorização para a fazer", referiu.

O presidente da autoridade portuária (APORTIL) Flávio Cardoso Pires, disse à Lusa que apenas se limitou a cumprir "instruções do ministro dos Transportes, para só ser autorizado o transporte de carga e não de passageiros".

"Não sei porque foi tomada essa decisão", afirmou, explicando que vai tentar coordenar com o Governo para realizar uma viagem de carga do Success assim que possível.

"Temos que encontrar uma solução para o problema da carga que Ataúro precisa. É importante resolver este assunto", disse.

Mateus Belo, administrador em Ataúro, manifestou à Lusa a preocupação com o cancelamento da viagem, referindo que a ilha tem "combustível para quatro ou cinco dias" para o gerador de eletricidade, bem como necessidade de transporte de carga.

"Só temos combustível para aguentar quatro ou cinco dias. Teremos que racionar ainda mais o fornecimento elétrico. É urgente que venha combustível e carga", sublinhou.

"A vida da população e a atividade económica é muito afetada por isto. As pessoas não têm condições para conservar produtos alimentares nem nada. Estou a tentar contactar as autoridades em Díli para resolver o problema", referiu.

Preocupações ecoadas por operadores de unidades turísticas na ilha, devido à possível falta de combustível, medicamentos e produtos essenciais.

Um dos operadores Barry Hinton disse que "muitas pessoas passar o Natal [em Ataúro] e precisam de voltar para Díli para trabalhar", e muitos residentes em Ataúro estão na capital e precisam de voltar, além de estar quase uma dezena de veículos retidos na ilha.

Outro operador turístico Mário Gomes indicou que vários passageiros em Ataúro caminharam horas a pé, de vários pontos da ilha, para apanhar o barco cancelado hoje. "E agora têm que voltar a pé, várias horas, para casa", referiu.

Apesar de não haver 'ferry' para a ilha e de ter sido proibida a viagem de passageiros, uma delegação de cerca de 40 pessoas do Ministério do Interior, liderada pelo vice-ministro do Interior, António Armindo, chegou entretanto a Ataúro.

"É uma visita para avaliar locais para instalar dois novos postos de controlo das fronteiras marítimas. Postos para a polícia marítima e a unidade de patrulhamento de fronteiras", disse Antonio Armindo à Lusa.

"Só temos um posto no Porto, em Beloi, e precisamos de outros postos para melhorar a vigilância", referiu.

A proximidade da ilha de Ataúro com ilhas indonésias como Pulau Liran causa preocupações com pesca e comércio ilegal.

Atualmente estão registados 12 casos ativos de covid-19 em Timor-Leste.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.869.674 mortos resultantes de mais de 86,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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