As distinções aos dois atores e encenadores são atribuídas pela Universidade de Lisboa, sob proposta da Faculdade de Letras (FLUL), indica a entidade, em comunicado.

Na fundamentação, o ator e encenador Luis Miguel Cintra é descrito como "um dos percursos mais exaltantes da recente História do Teatro Português, que lhe tem merecido -- no plano da cultura e das artes, não apenas em Portugal, mas também a nível internacional -- o reconhecimento unânime como intelectual, artista e criador de exceção".

A universidade refere ainda que a criação do Teatro da Cornucópia, em 1973, pelo homenageado, "representou, e continua a representar, uma aventura cultural e artística de consequências extraordinárias em muitos dos campos a que se reporta a prática de teatro".

Fundado em 1973, o Teatro da Cornucópia foi iniciativa de Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, que iniciaram as carreiras no teatro universitário, e reuniram em torno do seu projeto um pequeno grupo de atores profissionais, tornando-se numa das mais prestigiadas companhias nacionais. Viria a encerrar por decisão de Cintra, em 2016, depois de várias polémicas ligadas à falta de apoio.

Formado em Filologia Românica pela FLUL, onde iniciou a carreira de ator e encenador de teatro em 1968, no Grupo de Teatro de Letras, Luis Miguel Cintra frequentou a Bristol Old Vic Theater School, em Inglaterra.

Com a própria companhia de teatro, participou nos Festivais de Teatro da Bienal de Veneza (1984), de Avignon (1988), de Outono de Paris (1989), na Europália de Bruxelas (1991), e na sessão da École des Maîtres, em Udine, Itália, que lhe foi dedicada.

No final da década de 1990, Luis Miguel Cintra atuou no Théâtre de la Commune-Pandora, Aubervilliers/Paris e, em 2005, encenou um espetáculo no Teatro de la Abadia, em Madrid.

A encenação de ópera, a gravação de discos de literatura portuguesa e o trabalho como ator em vários filmes, nomeadamente de Manoel de Oliveira, e Maria de Medeiros, fazem parte do seu currículo, composto por um "invulgar trajeto artístico e cultural", sublinha a universidade.

Entre quase três dezenas de filmes, Cintra participou em "O Gebo e a Sombra" (2014), "Cristóvão Colombo - o Enigma" (2007), "O Princípio da Incerteza" (2002), "Non ou a Vã Glória de Mandar" (1991), de Manoel de Oliveira, e em "Capitães de Abril" (1999), de Maria de Medeiros.

Jorge Silva Melo, ator, encenador, dramaturgo, realizador e tradutor, licenciado em Filologia Românica pela FLUL, estudou na London Film School.

Com Luis Miguel Cintra fundou e dirigiu o Teatro da Cornucópia (1973/1979). Em 1995, viria a criar a sociedade Artistas Unidos, em Lisboa, de que é ainda diretor artístico.

É autor, entre outros, do libreto de "Le Château dês Carpathes", baseado em Júlio Verne, de Philippe Hersant, das peças "Seis Rapazes Três Raparigas", "António, Um Rapaz de Lisboa", "O Fim ou Tende Misericórdia de Nós", "Prometeu" e de "Num País Onde Não Querem Defender os Meus Direitos".

Jorge Silva Melo realizou, também, longas-metragens, documentários e curtas-metragens como "Passagem ou A Meio Caminho", "Ninguém Duas Vezes", "Agosto", "Coitado do Jorge" e "António, Um Rapaz de Lisboa".

Na área da tradução, trabalhou obras de Carlo Goldoni, Luigi Pirandello, Oscar Wilde, Bertolt Brecht, Georg Büchner, Lovecraft, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Heiner Müller, Harold Pinter e Max Frisch, entre outros.

Para a atribuição do grau de Doutor Honoris Causa a Jorge Silva Melo, é destacada a "personalidade de reconhecido mérito, atestado pelo seu curriculum e pela sua notável intervenção no campo artístico", assim como é sublinhado "o seu talento no traçar de novos caminhos do teatro português, após a revolução de Abril de 1974".

Na fundamentação para a homenagem, é destacado igualmente o papel de Jorge Silva Melo "durante a década de 1990, pelo repensar dos modos de produção e dos paradigmas do trabalho teatral, sempre com uma grande atenção ao real, num trabalho reconhecido nacional e internacionalmente".

Na cerimónia de atribuição do grau de Doutor Honoris Causa a Luis Miguel Cintra, o elogio ficará a cargo da professora da FLUL Maria João Brilhante, e o elogio a Jorge Silva Melo será feito pelo professor da FLUL José Pedro Serra.

AG // MAG

Lusa/Fim