A petição, que conta já com mais de 30 assinaturas e que vai ser entregue no parlamento na quinta-feira, contesta a eleição de Vergílio Guterres, na recente conferência da Associação de Jornalistas de Timor-Leste (AJTL), que engloba cerca de 300 profissionais, como representante no Conselho de Imprensa.

Em causa está um debate antigo em Timor-Leste, mas que se reacendeu na última semana sobre o conceito de jornalista-ativista.

Noémio Falcão, jornalista do Timor Post e um dos promotores da petição, explicou à Lusa que não contesta a participação na AJTL de "ativistas" ou de antigos jornalistas ativistas, mas sim a escolha de um atual não-jornalista para representar os profissionais do setor.

"Ativista é ativista e um jornalista é diferente porque tem códigos de ética e respeita a lei de comunicação social", frisou.

"Ativistas podem ser membros da AJTL, porque isso depende do estatuto da organização. Mas sobre a questão de representante dos jornalistas no CI, tem de ser um jornalista profissional como a lei da comunicação social define", afirmou.

Vergílio Guterres, que atualmente é presidente do Conselho de Imprensa, disse à Lusa que em causa está o conceito de jornalista, notando que a AJTL, a primeira associação de jornalistas do país tem, desde a sua fundação, em 2001, incluído "jornalistas-ativistas" e até autores de blogs ou jornais de parede.

"Quando a liberdade de expressão e de imprensa está garantida, sou jornalista, mas quando está risco ou banida sou ativista", explicou Guterres.

"Este espírito de ativismo continua na AJTL hoje, reconhecendo vários tipos de jornalismo", explicou.

A polémica, que suscitou debates intensos entre jornalistas nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, surgiu depois da votação levada a cabo na última conferência da AJTL, quando participaram na votação vários antigos jornalistas-ativistas, membros da associação.

"Alguns jornalistas consideraram que ativistas não deviam participar na eleição, porque não são jornalistas", disse Guterres.

A petição recorda elementos da lei da comunicação social que define as "incompatibilidades" com o desempenho da profissão de jornalista, entre as quais funcionário público, titular de órgão de soberania, de poder local, dirigente de partido político, assessor de imprensa ou atividade de publicidade.

Mais recentemente, a questão do ativismo entre jornalistas evidenciou-se com declarações públicas e publicações nas redes sociais de vários jornalistas timorenses de contestação a uma proposta do Governo para criminalizar a difamação.

O conceito de jornalismo-ativista está na génese de muitos dos profissionais mais antigos do setor em Timor-Leste, especialmente entre os mais velhos, que começaram a trabalhar há mais de 20 anos, ainda durante a ocupação indonésia.

 

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