À saída do encontro com o Presidente da República, a linguista Amália Lopes, uma das promotoras do grupo que lançou a petição em abril para a mudança da política linguística em Cabo Verde, começou por enaltecer o facto de José Maria Neves ter usado as suas línguas, crioulo e português, de forma alternada no seu discurso de tomada de posse, em 09 de novembro.

"Nós pensamos que é esse o caminho", salientou, adiantando que os promotores foram apresentar a petição ao chefe de Estado, mas também pedir o seu apoio para a causa da língua cabo-verdiana e da questão linguística do país.

Para a representante dos peticionários, trata-se de "uma questão de direitos humanos de natureza linguística, de justiça social e também de desenvolvimento humano".

Segundo Amália Lopes, o Presidente acolheu "muito bem" a ideia e garantiu o seu apoio.

"Para nós é muito importante, porque representa uma personalidade que consegue influenciar na obtenção dos consensos que são necessários a toda a atividade da defesa, valorização e promoção da língua cabo-verdiana", reforçou.

Segundo Amália Lopes, o grupo quer não só a oficialização do crioulo, que requer uma revisão da Constituição da República, mas também o ensino da língua cabo-verdiana e a sua padronização.

Para a promotora, o ideal no país seria um "bilinguismo precoce", desde o jardim-de-infância, em que as crianças pudessem aprender o suficiente do português oral, para que quando fossem para o primeiro ano fossem alfabetizadas nas duas línguas.

E disse também que o grupo se congratula com a medida do Ministério da Educação em pôr já uma disciplina da língua cabo-verdiana no 10.º ano.

"Vai ser muito importante porque os jovens estão a utilizar a língua cabo-verdiana nas redes sociais e vão poder ter uma disciplina que lhes permita escrever as bases da língua nas diferentes variedades, perceber as diferenças, as semelhanças e ter já competências básicas que lhes vão permitir comparar com a língua portuguesa e avançar melhor nas duas línguas", reforçou.

Em abril 188 personalidades assinaram uma petição que foi entregue ao então Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e a todos os partidos políticos candidatos às eleições legislativas realizada em 18 do mesmo mês.

A petição foi assinada por professores, investigadores, escritores, linguistas, artistas, historiadores ou economistas, cabo-verdianos e conhecedores da realidade de Cabo Verde, de Portugal, Estados Unidos, Brasil ou Guiné-Bissau.

Segundo Amália Lopes, depois das eleições legislativas, o grupo apresentou o pedido ao presidente da Assembleia Nacional, manteve encontros com os ministros da Educação e da Cultura, tendo obtido sempre "boa vontade e interesse político" em avançar para esta questão.

A porta-voz disse que, depois de todas estes encontros e apresentações, o grupo está a pensar em criar uma associação, para agregar mais pessoas e desenvolver ações com mais segurança.

Em declarações feitas à imprensa em português, Amália Lopes sublinhou que Cabo Verde tem duas línguas e que as pessoas devem ser livres de escolher a que querem usar em qualquer circunstância e "sem qualquer complexo".

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