
"O desenvolvimento do país está em risco quando a nutrição das crianças é comprometida, seja pela falta de alimentos nutritivos ou pela ingestão deficiente", referiu hoje a diretora-geral dos Serviços de Saúde, Odete Da Silva Viegas.
"Este estudo vai ajudar-nos a entender melhor a situação da nutrição infantil e verificar se fizemos progressos ou não", explicou.
O embaixador europeu em Díli, Andrew Jacobs, recordou que em Timor-Leste "muitas crianças não estão a receber os alimentos nutritivos e os cuidados de saúde" que necessitam.
"Isso prejudica sua capacidade de crescer, desenvolver e alcançar todo o seu potencial. Isso prejudica não apenas as próprias crianças, mas tem um impacto negativo na sociedade", frisou.
A responsável da UNICEF em Timor-Leste, Valerei Taton, recordou que a organização tem vindo a conduzir vários programas no setor da nutrição em Timor-Leste, incluindo a promoção, proteção e apoio à amamentação, alimentação complementar, suplementos e fortificação de micronutrientes.
"A desnutrição é a emergência oculta que afeta as crianças. Se não conhecermos o alcance do problema e o abordarmos atempadamente na vida de uma criança, isso poderá ter um impacto devastador sobre as crianças e o seu futuro", frisou.
Apoiada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pela União Europeia (UE), pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) e pela agência de cooperação coreana KOICA, o estudo quer conhecer o estado da nutrição das crianças do país.
Em comunicado, o Governo explicou que se trata de analisar os dados mais recentes para planear e implementar iniciativas que "melhorem o estado nutricional das crianças".
Um estudo divulgado em fevereiro pelo PAM e pela organização não-governamental timorense Conselho Nacional de Segurança e Soberania de Alimentos e de Nutrição em Timor-Leste (KONSSANTIL, em tétum), mostra que as dietas são pobres e pouco diversificadas em Timor-Leste, especialmente para grupos vulneráveis, como mães e crianças.
O estudo mostrou que a grande maioria da população não consegue pagar alimentação adequadamente nutritiva, com quase todas as famílias a conseguirem uma dieta básica, mas apenas entre 15 e 37% destas a serem capazes de pagar a dieta mais nutritiva.
Um relatório de 2019 da UNICEF e do Governo timorense mostra que Timor-Leste é, tanto na Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) como na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o país com maior percentagem de crianças menores de cinco anos que sofre de nanismo devido a malnutrição.
O Livro de Dados da Criança 2018 indica que metade das crianças sofre de nanismo "severo ou moderado", uma em cada três crianças tem peso a menos de forma "moderada ou severa" e uma em cada nove tem debilitação.
O novo estudo foi hoje oficialmente iniciado numa cerimónia em que participaram, entre outros e além de Odete Viegas, Andrew Jacobs e Valerie Taton, o vice-presidente da Autoridade Municipal de Dili, José Smith, e um representante do PAM, Dageng Liu.
A recolha de informação, que decorre até 04 de setembro, envolve 64 equipas que vão visitar quase 12.800 famílias em todo o país.
Entre a informação que vai ser recolhida incluem-se dados sobre antropometria, práticas alimentares, saneamento e higiene da água, segurança alimentar e comportamento na procura e acesso à saúde e à nutrição.
Estima-se que os resultados preliminares sejam conhecidos em setembro de 2020.
O último estudo idêntico, conduzido em 2013, mostrou que uma em cada duas crianças em Timor-Leste com menos de cinco anos de idade sofre de nanismo, uma das taxas mais elevadas do mundo.
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