A Casa Branca assegurou esta quarta-feira que está muito próxima a conclusão de um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas, apesar das tensões entre o Estado judaico e o Irão.

“Pensamos que nunca estivemos tão próximos” de firmar um acordo, afirmou em declarações aos 'media' John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da presidência dos Estados Unidos. “Existe uma boa proposta feita às duas partes e ambas devem aceitá-la para que possamos aplicar” este acordo de cessar-fogo e a libertação dos reféns.

Na segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, assegurou que Washington está envolvido “dia e noite” numa “intensa diplomacia” para evitar uma guerra regional entre Israel, por um lado, e o Irão e os grupos do “eixo da resistência”, onde se incluem o Hamas palestiniano e o Hezbollah libanês.

Na sequência da designação de Yahya Sinwar como chefe do Hamas em Gaza para a liderança política do movimento em substituição de Ismail Haniyeh, assassinado na passada quarta-feira em Teerão, Blinken qualificou-o de “primeiro decisor no que respeita à conclusão de um cessar-fogo” no enclave palestiniano. A morte de Haniyeh também suscitou receios sobre o futuro do processo negocial.

Na terça-feira, Blinken pediu pela primeira vez publicamente ao Irão, um declarado inimigo dos Estados Unidos, e ao seu aliado israelita de evitarem "a escalada" em direção a um conflito no Médio Oriente. “Primeiro, não queremos assistir a ataques e vamos continuar a trabalhar através dos canais diplomáticos para tentar que as tensões diminuam”, repetiu John Kirby. No entanto, também assegurou “que os Estados Unidos estão e vão permanecer em posição de apoiar Israel a defender-se”.

Irão exorta ocidentais a terminarem apoio a Israel para “evitar a guerra”

O Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, exortou os países ocidentais a terminar com o apoio a Israel para “evitar” uma guerra regional. “Se os Estados Unidos e os países ocidentais pretendem evitar a guerra e a insegurança na região, devem imediatamente interromper a venda de armas e de apoiar o regime sionista”, declarou, no decurso de um contacto telefónico com o homólogo francês, Emmanuel Macron, de acordo com um comunicado da Presidência iraniana.

O chefe de Estado iraniano sustentou que estes países “apoiam um regime que não respeita quaisquer leis e acordos internacionais”. No decurso do contacto telefónico, o Presidente iraniano também apelou aos países ocidentais a "forçarem o regime [Israel] a pôr termo ao genocídio e aos ataques contra Gaza e aceitar um cessar-fogo".

O Irão denunciou ainda o silêncio da Europa e a inação do Conselho de Segurança da ONU face aos “crimes israelitas”. O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano em exercício, Ali Bagheri Kani, recebeu na noite de terça-feira telefonemas dos homólogos do Reino Unido, Suíça, Malta e Áustria, a quem transmitiu a reprovação de Teerão perante um “comportamento de fechar os olhos e, por vezes, apoiar os crimes do regime sionista [Israel]”.

Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França denunciaram, no entanto, o “apoio iraniano aos atores desestabilizadores da região”, aludindo ao Hamas, Hezbollah e aos Huthis do Iémen, que constituem o chamado 'Eixo da Resistência', uma aliança informal anti-Israel, liderada por Teerão. O Irão condenou esta atitude dos países ocidentais e prometeu que dará uma resposta dura a Israel.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ O Exército israelita reconheceu, em comunicado militar, que diversos 'drones' lançados pelo movimento xiita libanês Hezbollah atingiram zonas abertas no norte do país, incluindo nos Montes Golã ocupados, após a falha de todos os intercetores. “Não se registaram feridos”, informou o comunicado militar, que não indica quantos 'drones' conseguiram atingir território israelita.

⇒ As autoridades egípcias foram avisadas pelo Irão de que as suas companhias aéreas devem evitar sobrevoar o espaço aéreo iraniano na madrugada de quinta-feira, durante um período de três horas, devido a “manobras militares”. Segundo o ministério egípcio, as autoridades iranianas já tinham emitido um aviso semelhante para esta quarta-feira, entre as 11h30 e as 14h30 (9h00 e 11h00 de Lisboa).

⇒ O Exército israelita anunciou o fim das operações da 7.ª brigada de combate na zona de Beni Suhaila, a leste de Khan Yunis, onde afirma ter matado mais de 70 membros de milícias palestinianas nas últimas semanas. As forças armadas "localizaram, investigaram e destruíram uma via subterrânea a dezenas de metros de profundidade", na qual encontraram oficinas do Hamas e três salas dedicadas ao fabrico de armas.

⇒ O chefe do Estado-Maior do Exército israelita, Herzi Halevi, prometeu “encontrar” o novo líder do Hamas, Yahya Sinwar, e eliminá-lo, num comunicado divulgado um dia após a nomeação deste para encabeçar o movimento palestiniano. "Vamos intensificar os nossos esforços para o encontrar, atacá-lo e assegurar que eles (os dirigentes do Hamas) terão mais uma vez de substituir o líder do gabinete político" da organização classificada como terrorista por Israel, declarou Halevi.

⇒ Os rebeldes Hutis do Iémen reivindicaram o lançamento de diversos mísseis balísticos e 'drones' contra três embarcações que cruzavam o mar Vermelho, dois deles navios de guerra norte-americanos, mas sem especificarem eventuais danos. O comunicado não especifica a data da ocorrência, mas assinala que o barco foi atacado por violar "a proibição de acesso aos portos da Palestina ocupada" imposta pelos Huthis contra os navios que se dirigem a portos israelitas.

⇒ Os Hutis também reivindicaram "uma operação militar específica dirigia ao contratorpedeiro norte-americano 'Cole' no golfo de Aden com vários aviões não tripulados" e outra contra o contratorpedeiro norte-americano 'Laboon', com vários mísseis balísticos.

⇒ O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Badr Abdelatty, abordou no Cairo com a União Europeia (UE) a tensão generalizada no Médio Oriente, particularmente no Mar Vermelho, segundo comunicado oficial. Abdelatty expressou ao comandante da missão naval da UE, Vasileos Gryparis, "a preocupação do Egito com a escalada em curso", aludindo a um possível ataque do Irão e respetivos aliados, incluindo os rebeldes Huthis, do Iémen, contra Israel.

⇒ Com a promessa do Irão e do grupo Hezbollah de uma retaliação contra Israel, após os recentes assassinatos de dois dirigentes do Hamas e do Hezbollah, o Médio Oriente está em suspenso enquanto aguarda a resposta.

⇒ O secretário-geral da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), Hussein Ibrahim Taha, condenou a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, responsabilizando Israel por crimes de guerra e genocídio na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Na sua intervenção frente aos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 57 países membros da OCI, o responsável pediu ao Conselho de Segurança da ONU que assuma a sua responsabilidade e tome as medidas necessárias com vista a obrigar Israel a respeitar o direito internacional e a “pôr fim às suas ameaças e ataques”.

⇒ A agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) conseguiu vacinar 80% das crianças da Faixa de Gaza desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, anunciou o comissário-geral da organização, Philippe Lazzarini. As vacinas foram doadas pelo Fundo das Nações Unidas para a Proteção das Crianças (UNICEF) e, segundo a UNRWA, incluem doses contra a poliomielite, papeira ou sarampo. Até ao momento, não foram detetados casos de poliomielite entre a população, mas foram detetados em seis das sete amostras ambientais recolhidas em todo o enclave palestiniano.

⇒ As Forças Armadas israelitas ordenaram também a evacuação da cidade de Beit Hanun, no extremo setentrional da Faixa de Gaza, e instou os residentes a deslocarem-se para sul, para a cidade de Gaza, afirmando que o Exército vai atuar na área, utilizada pelas milícias para lançar 'rockets' para Israel.