
"Vamos ter que pegar no OGE que temos e perguntar se a estrutura do OGE nos permite fazer o que queremos fazer. Já disse isso ao primeiro-ministro", afirmou Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) em entrevista à Lusa.
"Eu acho que não. Precisávamos de um OGE a 01 de janeiro, mas agora temos que ver se nos vai permitir fazer a diversificação da economia, investir no setor produtivo, melhorar a educação e saúde
O OGE para 2021 é o segundo maior de sempre, com uma despesa global consolidada de 2.029,5 milhões de dólares (1.726 milhões de euros), englobando 1.797 milhões de dólares (1.528 milhões de euros) da Administração Central, 127 milhões de dólares (108 milhões de euros) da Região Administração Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA) e cerca de 177,28 milhões de dólares (150,8 milhões de euros) da Segurança Social.
As contas para este ano, em que se estreia o sistema de orçamentação por programas, representam um aumento de 21% na despesa total face a 2020.
"O dinheiro está lá, mas acho que devia ser estruturado de forma diferente", afirmou Alkatiri.
O líder da Fretilin considera que teria sido uma "estupidez completa" estar a chumbar o orçamento, levando a que o país entrasse novamente em duodécimos, especialmente porque "há pagamentos que têm de ser feitos".
A Fretilin entrou para o atual Governo a meio do mandato deste, estando a operar com um programa que já existia e não tendo participado totalmente na elaboração do OGE para 2021.
Questionado sobre que avaliação faz do trabalho dos membros da Fretilin que entraram para o Governo em meados do ano passado, Alkatiri explicou que a opção pela "plataforma" para garantir a continuidade do executivo o "obrigou" a ter a "coragem de testar novos quadros" do partido.
Uma referência a dúvidas levantadas pelo elenco escolhido, muitos deles membros menos conhecidos da Fretilin, tendo ficado de fora figuras importantes do partido, algumas das quais com experiência governativa.
"Não é não dar importância ao Governo, mas testar novos quadros, porque entendo que ser parte deste Governo é diferente de ser parte de Governos anteriores", disse.
"É mais fácil orientar os atuais membros e eles aceitarem do que aqueles seniores que pensam que já fizeram não sei o quê. E estava plenamente consciente de que não ia ser fácil", sublinhou.
Considerando que os membros que entraram para o Governo "herdaram uma situação complicadíssima", Alkatiri referiu que é preciso alguma "tolerância" e que mudar membros do executivo "pode ser pior".
Agora, depois de em 2020 ficar resolvido o impasse político que afetou o país durante vários anos, o ano de 2021 é "fundamental", sendo urgente ultrapassar obstáculos que permanecem e utilizar o orçamento para avançar nas reformas e mudanças necessárias.
"Quando entrei disse que a fase mais difícil da luta da Fretilin era esta. No início dizia: deixem-nos apodrecer [ao Governo]. Mas quem iria apodrecer primeiro? O povo", referiu.
"Numa crise e ainda sem o vírus ter entrado, ficamos um mês em 'lock down' e já tinhas pessoas a passar fome, o que significa que já estavam a passar fome, a viver apenas de dia para dia", sublinhou.
Uma situação dessas, 20 anos depois da restauração da independência e "depois de tanto dinheiro gasto", disse, obrigava a atuar, sendo que a opção de formação de novo Governo não era viável e que a melhor solução foi a "plataforma" para garantir que o atual executivo continuava.
"Avancei, mas sempre com risco, assumindo que existe um risco. Se for bem-sucedido é de todos, mas se não for, a Fretilin é que assume os riscos. Por isso, é determinante o que se faz agora", disse.
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