Único candidato ao cargo, Ho Iat Seng foi escolhido por um colégio eleitoral de 400 membros representativos de vários setores da sociedade de Macau em 25 de agosto, cerca de dois meses depois do início dos protestos antigovernamentais em Hong Kong, a outra região administrativa especial chinesa.

Os efeitos dos protestos, que duram há cerca de seis meses, sobre a sociedade de Macau e o perigo de contágio levaram Ho Iat Seng a defender, no dia em que foi eleito, o respeito pelas "linhas vermelhas" definidas por Pequim e a recusar qualquer tipo de desvio da Lei Básica, que garante um elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, até 2049, sob o princípio "um país, dois sistemas".

Sobre a mais grave crise política desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997, Ho Iat Seng considerou que foram ultrapassadas as três "linhas vermelhas" definidas por Pequim: desrespeito pela soberania nacional e pelos símbolos do país, pelo desafio à autoridade do Governo central e à lei fundamental do território.

Em Macau, "todos esses princípios são respeitados", sublinhou. Assim, a polícia impediu a realização de uma manifestação, prevista para o largo do Senado, contra a violência policial em Hong Kong, e impediu também residentes do território vizinho de entrar na capital mundial do jogo.

Para o novo Executivo, que vai ser empossado no próximo dia 20 de dezembro para um mandato de cinco anos, ficou também a renovação das concessões e subconcessões de jogo, que terminam em 2022.

Este ano, o chefe do Governo cessante, Fernando Chui Sai On, prometeu a realização de um concurso público para atribuição das concessões.

Ao contrário de todas as previsões o ano ficou também marcado pela entrada do território em recessão técnica. De janeiro a setembro passados, a economia de Macau contraiu-se 3,5% em termos reais, com as receitas do jogo a registarem, no mês passado, a segunda queda mais acentuada do ano (8,5%), para 2,58 mil milhões de euros, depois de em agosto terem descido 8,6%.

As taxas de crescimento económico de 2019 foram todas revistas em baixa, para -3,8% no primeiro trimestre, -2,2% no segundo trimestre e -3% no primeiro semestre, de acordo com dados estatísticos anunciados em meados do mês passado.

As previsões são agora bem mais negativas do que as apresentadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no relatório sobre as perspetivas de evolução da economia global, em outubro.

Nessa altura, o FMI reviu em baixa a previsão de crescimento para a cidade, passando de uma estimativa de crescimento de 1,3% em 2019, para uma recessão de 1,3% e uma nova quebra do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,1% em 2020.

Um cenário muito diferente do apresentado pelo FMI, em julho de 2018, que estimava para Macau o maior rendimento 'per capita' do mundo em 2020, destronando o Qatar.

O que mais contribuiu para a viragem das previsões foi a diminuição dos investimentos e exportações, por sua vez afetados pelo "turismo do jogo", dado que estas receitas são afetadas negativamente pelo crescimento lento da China e pela incerteza criada pelo fim das licenças de jogo em 2022, indicou o FMI.

Analistas destacaram também como causa para o arrefecimento da economia a situação na vizinha Hong Kong e a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.

Ainda assim, o orçamento de Macau para 2020 prevê um saldo orçamental de mais de 22 mil milhões de patacas (2,468 mil milhões de euros).

As previsões para 2020 continuam a demonstrar uma economia local altamente dependente da indústria do jogo: O Governo de Macau prevê recolher 91 mil milhões de patacas (10 mil milhões de euros) em Imposto Especial sobre o Jogo, ou seja, cerca de 74,5% do total das receitas.

Um dos desafios que se coloca perante Ho Iat Seng é a integração do território no projeto regional Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau de construção de uma metrópole mundial a partir de Hong Kong e Macau, e nove cidades da província de Guangdong, através da criação de um mercado único e da crescente conectividade entre as vias rodoviárias, ferroviárias e marítimas.

Para o antigo presidente da Assembleia Legislativa de Macau e chfe do Governo eleito, o desenvolvimento da indústria tecnológica, para fornecer o mercado do continente chinês, é uma "tarefa fundamental" para o futuro executivo, embora tenha admitido que não será fácil cultivar novas indústrias em Macau, onde os casinos garantem salários altos.

De acordo com as autoridades chinesas, a Grande Baía vai converter-se, até 2022, num 'cluster' de classe mundial e, até 2035, numa área de excelência a nível internacional.

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