
"Tentar distanciar-se da NATO só iria aprofundar as divisões dentro da UE. A NATO claramente foi, e continua a ser, um importante contribuidor para a defesa coletiva europeia", sublinhou Gomes Cravinho durante um seminário virtual do Instituto Egmont, intitulado "O futuro da defesa europeia e as prioridades da presidência portuguesa".
Qualificando a ideia de que há uma contradição "entre o compromisso com a NATO e o aprofundamento de uma política de defesa europeia" de "dicotomia falsa e ultrapassada", o ministro da Defesa referiu que Portugal "valoriza a cooperação de defesa com os Estados Unidos e com o Canadá" e que os outros 21 Estados-membros da UE que também são aliados da NATO consideram a Aliança o "instrumento mais robusto e eficaz" para a defesa coletiva europeia.
"Para nós, o conceito [de autonomia estratégica] deve ser entendido enquanto capacidade para a UE fazer mais, preferencialmente com parceiros, mas sozinha se for necessário. (...) Tentar fazer com que a autonomia estratégica da UE seja fazer menos na NATO ou separar-se da NATO seria, na nossa opinião, um grande erro", defendeu.
Gomes Cravinho frisou assim que uma política de segurança e de defesa comum da UE deve "melhorar a eficácia da contribuição europeia na NATO" mas também "consolidar a identidade de defesa europeia".
Nesse âmbito, o ministro da defesa referiu que a presidência portuguesa fez da cooperação com os Estados Unidos e com a Organização do Tratado do Atlântica Norte (NATO, na sigla em inglês) uma das suas prioridades, e afirmou que, com a eleição de Joe Biden como novo Presidente dos Estados Unidos, a UE está numa posição que lhe permite "promover uma maior cooperação UE-NATO" em dois aspetos.
O primeiro aspeto, "muito prático", é intensificar o trabalho em "assuntos correntes" como a mobilidade militar, a segurança marítima, a coordenação de respostas a situações de emergência, e as ameaças híbridas e de desinformação.
Classificando o segundo aspeto como sendo o de "maior relevância" neste momento, Gomes Cravinho adiantou que se trata do "diálogo com a nova administração na Casa Branca", que procurará encetar durante o semestre português.
"Esperamos que o Conselho informal de ministros da Defesa em março -- que esperamos que possa ter lugar presencialmente -- seja um bom momento para ter a oportunidade de renovar o diálogo político com os nossos parceiros transatlânticos, em particular com os Estados Unidos, fazendo um balanço da abordagem da nova administração que é, claramente e felizmente, muito diferente da administração anterior", informou.
Referindo assim que o momento atual é para "pensar em grande", o ministro defendeu que um reforço dos mecanismos de cooperação entre a UE e a NATO não deve passar pela definição "preto no branco" de "faz precisamente o quê", mas servir para que haja uma discussão sobre partilha de responsabilidades em "áreas práticas" num futuro próximo.
Nesse âmbito, o ministro identificou a região do Sahel como sendo uma área onde pode haver uma "divisão de responsabilidades" entre a NATO e a União Europeia (UE).
"Uma área que acho que é muito relevante neste aspeto é o Sahel, que é uma área de grande instabilidade, de ameaça imediata para a Europa, e onde eu acho que os Estados-membros da UE e os militares europeus deveriam ter uma responsabilidade significativa. O apoio da NATO na região é apreciado, mas, sobretudo, em termos de informação que podem fornecer", sublinhou.
Em sentido contrário, o Mediterrâneo Oriental é uma região de "importância primordial" tanto para a UE como para a Aliança e onde é necessário "garantir absolutamente" que não se torna numa região onde os parceiros têm "interesses divergentes", podendo a NATO ter um papel central nesse contexto.
"A NATO, com uma presença forte e uma administração americana empenhada, pode fazer uma grande diferença no sentido de trazer uma plataforma de entendimento sobre a questão do Mediterrâneo Oriental, que poderia ser de grande benefício também para a UE, em particular na maneira como a UE se relaciona com a Turquia, que não pode ser uma relação 'winner takes all' [o vencedor leva tudo]", sublinhou.
TEYA // MDR
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