
A diretora do Serviço de Oncologia da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve, Ana Varges Gomes, foi demitida, esta terça-feira, por "quebra de confiança institucional", disse à agência Lusa o presidente da administração hospitalar.
De acordo com Tiago Botelho, a demissão da oncologista, que já presidiu ao conselho de administração do antigo centro hospitalar, "resultou dos motivos invocados" pelos médicos daquele serviço para o pedido de escusa de responsabilidade apresentado há cerca de um mês.
"O fundamental decorre do facto de ter sido feita uma exposição injustificada, em que rebatemos ponto a ponto cada uma das alegações que são apresentadas na escusa de responsabilidade", referiu o presidente da ULS, justificando o afastamento da médica "por quebra de confiança e mal-estar geral dentro do serviço".
Tiago Botelho disse desconhecer o número de médicos que pediram escusa, porque recebeu apenas um documento com a exposição, enviado através do endereço eletrónico de Ana Varges Gomes, sem outras assinaturas.
"Nunca recebemos no conselho de administração o nome de um único médico que subscrevesse aquele documento. O que tivemos foi pessoas que nos disseram que não concordavam com o documento e que achavam abusivo que todos os médicos estivessem naquele pacote", referiu.
"Parece-me um bocadinho estranho"
Em declarações à Lusa, Ana Varges Gomes confirmou que esta terça-feira de manhã se reuniu com a diretora clínica e um vogal do conselho de administração da ULS e lhe foi comunicado que a "demitiam por perda de confiança em função da escusa de responsabilidade apresentada em nome do serviço".
No entanto, aquela responsável sublinhou que se vai manter em funções "com a mesma responsabilidade e zelo", até a administração lhe comunicar, por escrito, a sua demissão, acrescentando ter já pedido que a comunicação fosse formalizada por escrito, o que até às 16:15 ainda não tinha acontecido.
A diretora de serviço disse estranhar que o motivo invocado para a demissão fosse a perda de confiança, argumentando que o "lugar de diretor de serviço não é de confiança", ao contrário do que acontece com a direção de departamento, "que, sim, é um lugar de confiança", já que a nomeação é feita de acordo com a direção clínica e o conselho de administração.
"Os diretores de serviço são por concurso. Eu estava nomeada interinamente até abertura de concurso, portanto, comunicarem-me que me iam demitir por perda de confiança em virtude de uma comunicação de uma escusa de responsabilidade, que invoca coisas graves para os doentes, parece-me um bocadinho estranho", sustentou.
Médicos denunciaram dalta de condições de trabalho
Os médicos do serviço de Oncologia Médica da ULS do Algarve apresentaram, em abril, escusa de responsabilidade, denunciando falta de condições de trabalho e problemas nos cuidados prestados aos utentes, nomeadamente, atrasos de meses na autorização de medicamentos e exames
Na altura, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) explicou que esses atrasos tinham "impacto direto na sobrevivência e prognóstico dos doentes", adiantando que o caso foi denunciado à Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS).
"Há alegações injustificadas, acusações que são feitas ao conselho de administração que são falsas e, sobretudo, uma situação de conflitualidade que a senhora diretora do serviço de Oncologia revelou para com colegas e funcionários do serviço", referiu, por seu turno, Tiago Botelho.
A demissão de Ana Varges Gomes levou a Federação do PS do Algarve a lamentar hoje que "a ULS do Algarve esteja a ser transformada num centro partidário e que a gestão pública e o valor técnico tenham cedido lugar à direção política e aos interesses partidários do PSD".
O PS do Algarve criticou, em comunicado, a decisão da administração hospitalar, frisando que os seus deputados eleitos pelo círculo de Faro visitaram na segunda-feira o serviço de Oncologia do Hospital de Faro após a "denúncia grave" dos médicos sobre atrasos na autorização de medicamentos e exames.
"Os deputados do PS querem repudiar este ato de perseguição contra os médicos e os profissionais do serviço de Oncologia dos hospitais de Faro e Portimão e exortam a direção nacional do SNS [Serviço Nacional de Saúde] a intervir e a corrigir esta decisão persecutória [...] ", pode ler-se no comunicado do PS.