Críticas à saúde, a crise da habitação, ao desemprego, ao custo de acesso ao ensino superior ou a situação política atual do país foram algumas das denúncias feitas pelos estudantes, que deram início ao desfile na tarde de hoje, no Largo Dom Dinis.

Além das mensagens e trocadilhos de cariz sexual habitualmente presentes, os carros foram adornados com bonecos do primeiro-ministro, Luís Montenegro, ou do ministro da Educação, com as laterais preenchidas de flores com as cores dos cursos ou faculdades e mensagens políticas, algumas a apontar receios dos estudantes.

Com frases como "Portugal forma, a Europa emprega" e "se dedicação pagasse contas, o enfermeiro seria rico", os alunos deste curso denunciaram a perspetiva de ser preciso procurar emprego noutra localidade ou no estrangeiro para serem valorizados, contou à Lusa Solange e Rosa, de 21 anos, que ainda têm um ano de estudo até concluir a formação.

Quado terminarem o curso de enfermagem, a perspetiva é "muito provavelmente ir para fora", adiantaram.

O carro do curso de economia focou-se "nas eleições constantes", que não permitem que as políticas sejam "implementadas em condições", disse Mariana Santos, de 21 anos.

O carro da aluna do terceiro ano de Economia tinha na dianteira um tapete do jogo Monopólio com um boneco de Luís Montenegro, a segurar uma caixa onde se lê "Spinumviva", empresa da família do primeiro-ministro.

Na lateral, comentários como "Campanha eleitoral ou 'casting' para reality show? Difícil dizer" ou "Mudança? só se for de cadeiras no Parlamento", o objetivo era "ridicularizar a maior preocupação com a imagem do que propriamente com fazer coisas cuidadas e com políticas que realmente vão ter o efeito que é preciso".

"Cunha tem prioridade, mérito aguarda triagem", "é mais fácil formar governo do que arranjar quarto em Coimbra", "única medicação que nos é oferecida é a resiliência", "sem bolsa, sem hipóteses" e "estudantes endividados, ministros descansados" foram algumas das frases expostas nos carros.

O carro de animação socioeducativa da Escola Superior de Educação fez uma crítica ao elevado custo de estudar no ensino superior, disse Margarida Monteiro, de 21 anos.

"O dinheiro que gastamos [para aceder ao ensino superior] não é recompensado nos nossos salários, apesar de termos um grau maior de educação", sublinhou, realçando os preços das propinas e das rendas, este último dificultado pelo facto de que, "na maioria das vezes, [os senhorios] nem se quer passam recibos".

Já o carro de Mariana, de 23 anos, com alunos que fizeram os três primeiros anos de medicina nos Açores e os últimos três em Coimbra, criticou a sobrelotação do Serviço de Urgência, resultado da "falta de médicos, falta de recursos e da má gestão hospitalar".

Também o carro da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra denunciou a desvalorização do farmacêutico no SNS, contou o estudante de 23 anos Miguel Fernandes.

Sublinhando "o papel que os farmacêuticos podiam ter na comunidade, não só para aliviar a pressão que tem sido posta no SNS, como também para pôr os conhecimentos em prática", Miguel Fernandes abordou a perspetiva de emigração como solução para arranjar trabalho.

Pelo cortejo, apesar das críticas sociais, o clima era de diversão, com as habituais "bengaladas" na cartola dos finalistas, os tradicionais banhos de cerveja, música e milhares de pessoas a assistir ao desfile nas ruas, mas também desde as janelas e as varandas das próprias casas.

FYBP // JPS

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