"Aqui na nossa comunidade ainda estamos um bocadinho atrasados, ainda há clubes e Festas que não deixam as senhoras participar nas reuniões", disse a contabilista Marie Kelly, que nasceu na ilha de São Jorge e reside agora em Modesto, vale central da Califórnia. 

"As pessoas que vieram ficaram como estavam quando emigraram e educaram os filhos daquela maneira", afirmou. "Até que venha outra geração que comece a valorizar a mulher, estamos ainda atrasados". 

Intitulada "Mulheres da Diáspora Portuguesa nos Estados Unidos", esta edição da iniciativa do Conselho de Liderança Luso-Americano (PALCUS) e Instituto Português Além-Fronteiras (PBBI) debateu o papel feminino na comunidade imigrante e o fraco histórico de mulheres em cargos de liderança. 

"Ainda existe muito machismo, sem dúvida", considerou a advogada Anabela Dacruz-Melo, que exerce em Nova Jersey e tem cerca de 75% dos seus clientes na comunidade portuguesa.

"Na nossa profissão existem homens que nos tratam como cidadãs de segunda classe", afirmou a advogada, natural da Bairrada e emigrante nos Estados Unidos desde os 15 anos. 

No entanto, Anabela Dacruz-Melo referiu que existe um movimento de mudança na sociedade, que entende que as mulheres não devem ser tratadas assim, e isso também se reflete no associativismo.

"Já corremos muito percurso para chegar onde estamos e há muita mulher à frente de muita organização agora, e é bom de se ver", afirmou. Segundo a sua opinião, há agora um reconhecimento da importância das mulheres nos clubes e associações, onde sempre estiveram em segunda fila.

Foi o que indicou também Márcia Sousa Da Ponte, formada em gestão de empresas nos Açores e emigrante em Rhode Island. 

"Havia clubes portugueses que não permitiam a entrada das mulheres como sócias", lembrou. Salientando que há uma evolução patente do papel que as mulheres estão a assumir, a luso-americana afirmou que é preciso continuar o trabalho. "Temos muito que continuar a conquistar", opinou.

Para Cristina da Silva, que nasceu na América filha de emigrantes portugueses, a ausência das mulheres dos cargos de liderança nas associações traduziu a falta de apoio dos maridos e da comunidade. 

"Talvez a comunidade portuguesa tenha sido machista", afirmou. "Eu reparava isso quando ia a Portugal, via a diferença, ouvia certos comentários", indicou. 

Isso é algo que está a mudar com os tempos. "Nos últimos anos as mulheres têm uma voz mais forte, estão a desempenhar estes cargos e a comunidade portuguesa tem evoluído", considerou. 

"Espero que continue a ser assim, com mulheres à frente destas associações, que antes eram só homens", continuou, apontando que no próprio governo dos Estados Unidos só agora há uma mulher no cargo de vice-presidente, Kamala Harris. 

"Pouco a pouco, as mulheres estão a entrar no papel que deviam ter tido sempre", afirmou. 

ARYG // PJA

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