
Começou este domingo em Kananaskis, nas Montanhas Rochosas de Alberta, no Canadá, a cimeira do G7, que reúne os líderes das sete maiores economias democráticas do mundo – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido –, com a presença da União Europeia (UE) e de vários países convidados, entre os quais Ucrânia, Brasil, Índia, México, África do Sul e Austrália.
Terminando esta terça-feira, 17 de junho, a reunião decorre num ambiente de forte tensão geopolítica, marcado pela escalada do conflito entre Israel e o Irão, a guerra na Ucrânia, o regresso de Donald Trump à liderança dos Estados Unidos e o reforço das metas de Defesa no âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Apesar de a agenda inicial prever debates centrados no comércio internacional, na transição energética e na regulação das novas tecnologias, foi a intensificação do confronto entre Israel e o Irão que se tornou o tema principal. Os bombardeamentos mútuos dos últimos dias reacenderam receios de um alastramento do conflito e provocaram novos aumentos no preço do petróleo.
A gravidade da situação levou o Canadá, país-anfitrião do encontro, a abandonar o tradicional comunicado conjunto, temendo que as divergências internas entre os aliados bloqueassem a declaração final, como já sucedeu na cimeira de 2018.
A maioria dos líderes europeus, incluindo o Presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, apelaram a uma posição coordenada e firme para conter a escalada militar.
Donald Trump, de regresso ao G7 depois da vitória nas presidenciais de 2024, reiterou a sua preferência por resolver os conflitos diretamente com um país de cada vez, em lugar de se envolver em acordos ou decisões tomadas em grupo com vários países ao mesmo tempo. O Presidente dos Estados Unidos chegou a propor uma intervenção diplomática da Rússia como mediadora, sugestão que foi imediatamente rejeitada pela generalidade dos parceiros.
A guerra na Ucrânia continua a gerar divisões quanto à forma e intensidade do apoio internacional. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participa esta segunda-feira na cimeira e deverá reunir-se com Trump, estando ainda na memória o encontro polémico em fevereiro na Casa Branca.
Zelensky procura assegurar o compromisso norte-americano com o apoio financeiro e militar a Kiev, num momento em que os combates se intensificam no leste do país e a ajuda ocidental revela sinais de fraqueza. Trump tem manifestado receio quanto ao prolongamento das sanções à Rússia e insiste em negociar diretamente com o Governo de Moscovo, posição que gera desconforto entre os aliados europeus.
Este encontro decorre a poucos dias da cimeira da NATO em Haia, nos Países Baixos, onde se espera uma revisão em alta das metas de investimento em defesa. Os chefes de Estado e de Governo dos países do G7, todos membros da Aliança Atlântica, discutem a possibilidade de elevar o patamar mínimo dos atuais 2% do PIB para níveis mais exigentes, numa resposta direta ao aumento das ameaças à segurança internacional.
Apesar do predomínio das questões de segurança, o G7 tenta ainda manter espaço para outros temas estruturantes, como a inteligência artificial, o clima e o comércio global. O primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, apresentou uma proposta para criar um quadro comum de combate a incêndios florestais, o Kananaskis Wildfire Charter, numa altura em que mais de 200 fogos lavram na província de Alberta, no Canadá.
A União Europeia reafirmou o objetivo de eliminar todas as importações de combustíveis fósseis da Rússia até 2027, num sinal de continuidade face às políticas adotadas após a invasão em larga escala da Ucrânia por forças russas.
A cimeira decorre sob apertadas medidas de segurança, com milhares de agentes mobilizados, acessos fortemente controlados e zonas reservadas para as manifestações em Calgary. Com mais de dois mil delegados presentes e uma logística exigente, o evento representa também um desafio ambiental e económico para o país-anfitrião.
Texto escrito por Nadja Pereira e editado por Hélder Gomes