
O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, sublinhou hoje a importância de "amplificar as vozes do 'Sul Global'", na inauguração da Organização Internacional de Mediação em Hong Kong, que pretende competir com o Tribunal de Haia.
No discurso de inauguração, que decorreu no hotel Grand Hyatt, em Wan Chai, Wang deu as boas-vindas a representantes de 50 países e 20 organismos internacionais e anunciou que 32 nações se inscreveram para se tornarem membros fundadores do novo organismo.
Depois de citar o Presidente chinês, Xi Jinping, o ministro sublinhou que a instituição visa colmatar a lacuna de mecanismos legais para ultrapassar as mentalidades de "tudo ou nada", facilitando a resolução de litígios internacionais e as relações entre países.
"A harmonia e a coexistência, a consulta e a mediação ultrapassarão o pensamento de 'tudo ou nada', ao promover a resolução de litígios", afirmou, sublinhando que "uma civilização jurídica inclusiva que respeite a vontade das partes proporcionará conveniência e vantagens".
O ministro chinês disse que todos os signatários da convenção "participam numa base voluntária" e destacou o respeito mútuo como base para promover a mediação e uma cultura de reconciliação.
"Ao estabelecer regras pragmáticas e eficientes, aderir à equidade e à justiça, e considerar a justiça processual, promovemos mecanismos para resolver disputas globais e amplificamos a voz do Sul Global", disse Wang.
Procurando posicionar a China como um ator-chave na mediação de disputas internacionais, Wang sublinhou que "com a globalização, o mundo está intimamente ligado. Ao recorrer à mediação e adotar a compreensão mútua para lidar com conflitos, podemos transformar a hostilidade em amizade e os muros altos em canais de comunicação".
O principal diplomata chinês afirmou que Hong Kong - cidade vizinha de Macau - foi escolhida como sede do novo organismo "devido às suas vantagens no domínio do direito comum e civil, ao apoio da China continental e ao seu ambiente empresarial favorável".
O responsável descreveu a nova organização como uma "estrela em ascensão" que crescerá com a cidade considerada a "Pérola do Oriente".
Segundo Alicia Garcia Herrero, economista-chefe para a Ásia-Pacífico do banco Natixis, o novo escritório de Hong Kong desempenhará um papel significativo em relação ao Sul Global.
A economista salientou que os escritórios criados nas cidades chinesas de Xian e Shenzhen para a Iniciativa Faixa e Rota não tiveram muito sucesso, pelo que os casos serão transferidos para Hong Kong, onde se aplica a lei anglo-saxónica.
O chefe do Executivo, John Lee, afirmou que a criação do novo órgão foi resultado de cinco rondas de negociações intensas com 20 países desde 2022.
Lee salientou que esta primeira organização intergovernamental internacional se tornará cada vez mais relevante face às atuais tensões geopolíticas, "à medida que o protecionismo ameaça desestabilizar a ordem comercial internacional e o unilateralismo paira sobre a cadeia de abastecimento global".
A Convenção sobre o Estabelecimento da Organização Internacional de Mediação foi finalmente assinada com a China, seguida por representantes de 31 países da Ásia, África, América Latina, Oceânia e Europa.
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