"A especificidade de Cabo Verde é um facto, precisa de ser reconhecida e valorizada. Os estatutos da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] já preveem, porque nós somos o único país arquipelágico e insular na CEDEAO, e isso faz diferença relativamente, por exemplo, a determinados projetos", afirmou Ulisses Correia e Silva, em Abuja, à margem da inauguração da embaixada do país na CEDEAO e na Nigéria.

A CEDEAO é composta por 15 países situados na região da África Ocidental -- Cabo Verde, enquanto arquipélago, é o único sem fronteira terrestre com os restantes -- e que partilham simultaneamente laços culturais e geopolíticos, mas também interesses económicos comuns.

"Nós não podemos concorrer a projetos rodoviários continentais, a projetos ferroviários, por outro lado temos necessidades de portos, aeroportos, temos multiplicação de infraestruturas pelo facto de sermos ilhas. A nossa especificidade também económica exige alguma atenção relativamente à questão da moeda comum [projeto dos países do continente], à questão da tarifa externa comum [da CEDEAO], porque o nível e o perfil da nossa economia é diferente do perfil das economias do continente, somos mais serviços, mais turismo", explicou Ulisses Correia e Silva.

"É nessas condições que nós vamos trabalhando para podermos apresentar brevemente, porque já temos o estudo elaborado, junto das instâncias da CEDEAO, a nossa especificidade e fazer valorizar essas especificidades para termos uma integração na diversidade, mas que faça que todos os países se sintam bem representados", acrescentou.

Além de Cabo Verde, integram a CEDEAO o Benim, Burquina Faso, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.

Ulisses Correia e Silva inaugurou hoje a primeira embaixada do país na CEDEAO e na Nigéria, também com a perspetiva de reforço das relações diplomáticas e económicas com aquele país.

"Tem um significado político muito forte, que é a presença de Cabo Verde, a proximidade, estarmos junto aos centros de decisão, nomeadamente a Comissão da CEDEAO, e também podermos reforçar as nossas ligações diplomáticas, económicas, culturais, com um país importante em África, a Nigéria. E estarmos também mais integrados relativamente aquilo que é a nossa participação na CEDEAO", salientou Ulisses Correia e Silva.

Cabo Verde abriu em 2020 a missão diplomática em Abuja, Nigéria, sede da CEDEAO, tendo o primeiro embaixador, Belarmino Silva, nomeado no mês passado, apresentado as cartas credenciais naquele país em 29 de outubro, iniciando nessa data, oficialmente, as suas funções.

Em Abuja, o primeiro-ministro reuniu-se ainda com os embaixadores permanentes dos Estados-membros da CEDEAO na Comissão da organização.

O Governo cabo-verdiano oficializou anteriormente a criação de uma embaixada na Nigéria, justificada com a importância daquele país e para ser "mais interventivo" nas decisões da CEDEAO, que Cabo Verde integra desde 1976.

A criação daquela embaixada foi oficializada pelo decreto-lei 6/2021, de 15 de janeiro, promulgado pelo então Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, no qual o Governo cabo-verdiano justifica a medida com a "necessidade de se garantir uma melhor cobertura diplomática na sub-região oeste africana" e assim "assegurar uma mais eficaz proteção dos interesses nacionais".

Destaca ainda que a República Federal da Nigéria é "estratégica para qualquer país da África Ocidental", face "ao seu peso político e económico" na sub-região e por ser o Estado sede da CEDEAO.

Nesse sentido, torna-se "indispensável uma presença permanente e ao mais alto nível de Cabo Verde", para "incrementar relações bilaterais entre os dois países e acompanhar sistemática e ativamente a evolução do processo de integração regional, assegurando melhor inserção do país na sub-região", lê-se ainda.

Além disso, o Governo de Ulisses Correia e Silva também afirmava estar "ciente de que o país deve ser mais interventivo no processo de formação das decisões da CEDEAO".

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