"Cinco norte-americanos inocentes que estavam detidos no Irão vão finalmente regressar a casa", encontrando-se já em Doha, afirmou Biden, que agradeceu aos governos do Qatar, Omã, Suíça e Coreia do Sul envolvidos nas negociações.

Por outro lado, o Presidente dos Estados Unidos garantiu que vai "continuar a sancionar o Irão pelas ações provocatórias na região", após o anúncio da troca de prisioneiros entre Teerão e Washington, que o coloca numa posição política delicada.

Após a transferência de 6.000 milhões de dólares (5.620 milhões de euros) de fundos iranianos congelados na Coreia do Sul, o avião do Qatar que transportou os cinco norte-americanos aterrou na pista do aeroporto internacional de Doha por volta das 14:40 GMT (mesma hora em Lisboa).

Apesar do acordo, é quase certo que as tensões se mantenham elevadas entre os Estados Unidos e o Irão, que estão envolvidos em várias disputas, nomeadamente sobre o programa nuclear de Teerão. O Irão afirma que o programa é pacífico, mas atualmente enriquece urânio mais perto do que nunca de níveis de qualidade para armas.

A troca planeada desenrolou-se no meio de uma grande escalada militar norte-americana no Golfo Pérsico, com a possibilidade de as tropas dos Estados Unidos abordarem e apreenderem navios comerciais no Estreito de Ormuz, por onde passam 20% de todos os carregamentos de petróleo.

Depois de o avião ter abrandado até parar, três dos prisioneiros desceram a rampa e foram recebidos pelo embaixador dos Estados Unidos no Qatar, Timmy Davis. Os ex-prisioneiros abraçaram o embaixador e outras pessoas.

Três dos cinco norte-americanos foram identificados: Siamak Namazi, Emad Sharghi e Morad Tahbaz. As autoridades norte-americanas não revelaram, porém, os nomes dos restantes dois.

"Não estaria livre hoje se não fosse por todos vós, que não permitiram que o mundo me esquecesse. Obrigado por serem a minha voz quando não podia falar por mim próprio e por se certificarem de que eu era ouvido quando reunia forças para gritar por detrás dos muros impenetráveis da prisão de Evin", afirmou Namazi numa declaração emitida em seu nome após a aterragem.

Hoje de Manhã, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanaani, disse que a troca teria lugar ainda hoje, depois de se confirmar a transferência dos 6.000 milhões de dólares em ativos iranianos, outrora congelados na Coreia do Sul.

"Felizmente, os bens do Irão congelados na Coreia do Sul foram libertados e, se Deus quiser, hoje começarão a ser totalmente controlados pelo governo e pela nação" iraniana, disse Kanaani.

"No que se refere à troca de prisioneiros, ela ocorrerá hoje e cinco prisioneiros, cidadãos da República Islâmica, também serão libertados das prisões dos Estados Unidos. Cinco cidadãos presos que estavam no Irão serão entregues aos Estados Unidos", acrescentou.

Entretanto, o Nour News, uma plataforma noticiosa que se acredita ser próximo do aparelho de segurança do Irão, disse que dois dos prisioneiros iranianos já tinham chegado a Doha para a troca.

Mohammad Reza Farzin, presidente do Banco Central do Irão, foi mais tarde à televisão estatal acusar a receção do mo0ntante em causa em contas no Qatar. Há alguns meses, o Irão tinha previsto receber até 7.000 milhões de dólares (6.560 milhões de euros).

A troca planeada ocorre antes da reunião dos líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU, que começa terça-feira em Nova Iorque, onde está prevista uma intervenção do Presidente iraniano, Ebrahim Raisi.

O acordo já expôs Biden a novas críticas dos republicanos e de outros que afirmam que a administração está a ajudar a impulsionar a economia iraniana numa altura em que o Irão representa uma ameaça crescente para as tropas norte-americanas e os aliados do Médio Oriente, indicando que tal poderá ter também implicações na sua campanha de reeleição como Presidente dos Estados Unidos.

Na sua declaração, Biden exortou os norte-americanos a não viajarem para o Irão e exigiu mais informações sobre o que aconteceu a Bob Levinson, um compatriota que desapareceu há anos. Biden anunciou também sanções contra o antigo Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad e contra o Ministério dos Serviços Secretos iraniano.

Namazi, que foi detido em 2015 e posteriormente condenado a 10 anos de prisão por acusações de espionagem, Emad Sharghi, um empresário condenado a 10 anos, e Morad Tahbaz, um conservacionista britânico-norte-americano de ascendência iraniana que foi detido em 2018 e também recebeu uma sentença de 10 anos. 

Todas as acusações foram amplamente criticadas pelas suas famílias, ativistas e pelo governo dos EUA, quer as consideraram fabricadas".

 

JSD // APN

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