
"Apelamos aos chefes de EStado e às organizações internacionais para apoiarem o nosso papel no sistema financeiro africano e para nos darem os meios e incentivos necessários", lê-se na declaração final da reunião, enviada à Lusa.
"Estes incentivos são um mandato mais claro sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, mais capacidade, mais acesso a recursos concessionais e um reforço do nosso capital, e a possibilidade de beneficiar da emissão de Diretos Especiais pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)", acrescenta-se no texto, que alerta para os "enormes obstáculos" pela frente.
"Estamos numa posição única para dar apoio financeiro efetivo, incluindo a mobilização do investimento privado e das poupanças internas, e estamos a fazer isso cada vez mais, mas enfrentamos grandes obstáculos no desenvolvimento dos instrumentos necessários para nos ajudarem a lidar com os impactos das alterações climáticas e fortalecer ainda mais o setor privado africano, nomeadamente na gestão eficaz dos riscos", dizem os 95 bancos de desenvolvimento a funcionar em África.
Os países africanos, fragilizados com os efeitos da pandemia, que agravou as debilidades já existentes, "enfrentam um enorme défice de investimento e, ao mesmo tempo, têm de lidar com a questão dos pagamentos da dívida, que pesa significativamente na sua capacidade de financiar os programas de desenvolvimento", salientam os bancos na declaração que surge depois da reunião organizada pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e pela Associação Africana de Instituições de Desenvolvimento Financeiro, a partir de Abidjan.
"Enquanto bancos públicos de desenvolvimento, temos de aprofundar a nossa capacidade de chegar a todas as partes de África, e para garantir a inclusão financeira, especialmente para os que não têm conta bancária e expandir o acesso às finanças, poupanças e produtos e serviços de seguradores, precisamos de trabalhar como um sistema unificado", disse o presidente do BAD, Akinwumi Adesina, citado no comunicado.
A pandemia de covid-19 levou a uma recessão histórica de 2,1% no continente no ano passado, que ameaça os ganhos alcançados durante a última década relativamente aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
"A pandemia impactou de forma negativa a situação da dívida para os países africanos; sem uma resolução dos 700 mil milhões de dólares [578 mil milhões de euros] em dívida externa africana, a recuperação económica do continente pode ser atrasada e a estabilidade dos mercados financeiros vai ser afetada a curto e médio prazo", acrescentou Adesina.
"Pensem no impacto que esta dívida está a ter: em 2019, África pagou 221 mil milhões de dólares [182 mil milhões de euros] em serviço da dívida, o que representa 44% da receita total dos governos, de 501 mil milhões de dólares [412 mil milhões de euros] nesse ano", vincou o banqueiro.
Estes e outros dados serão apresentados na reunião da próxima semana em Paris, quando os chefes de Estado africanos se reunirem sob a chancela da França na Cimeira sobre o Financiamento das Economias Africanas, que "deverá chegar a mais compromissos e anúncios sobre assistência técnica e financeira para apoiar as promessas feitas pelos bancos públicos de desenvolvimento africanos", conclui-se no comunicado.
MBA // PJA
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