O ator Adérito Lopes, que foi agredido esta terça-feira à noite antes de entrar para um espetáculo no teatro Cinearte, da companhia "A Barraca", já está em casa.

Fonte próxima, que estava no local quando ocorreram as agressões, confirmou à SIC que o ator saiu do hospital por volta das 2:00 e que ainda voltou para o teatro.

Adérito Lopes foi agredido com um soco no olho, provavelmente com uma soqueira ou com anéis, cerca de uma hora antes do espetáculo, revela a mesma fonte. Foi levado para o hospital pelos bombeiros. Ficou com rasgões na cara e teve de levar pontos.

À SIC, Maria do Céu Guerra, atriz e encenadora da peça, contou que o elenco foi surpreendido por um grupo de neonazis que regressava de uma manifestação com cartazes com várias frases xenófobas.

"Eram cerca de 30, começaram por provocar uma atriz, que vinha com uma camisola com uma estrela, e que vinha com 'headphones' e, portanto, nem ouviu o que diziam. Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara, já foi cosido", contou.

Fonte da PSP adiantou à agência Lusa que o alerta foi dado por volta das 20:15 no Largo de Santos por "haver notícia de agressões".

Agressor terá cerca de 20 anos

A PSP, com as características do eventual suspeito fornecidas pelo ofendido e por um amigo, encetou várias diligências nas ruas adjacentes ao Largo de Santos, tendo sido possível localizar e intercetar um homem com 20 anos, suspeito de ser o autor da agressão, adiantou a mesma fonte.

Segundo o jornal Expresso, fará parte do grupo Blood and Honour, uma organização internacional de extrema-direira com representação em Portugal. À SIC, outra fonte adiantou que o detido tem ligações ao grupo “Portugueses Primeiro”.

O indíviduo fazia parte do grupo que estava a colar autocolantes nas imediações do teatro, e que identificam o movimento Reconquista que já negou o ataque nas redes sociais.

Tratando-se desta agressão um crime semi-publico, ou seja, aqueles cujo processo apenas se inicia mediante a apresentação de queixa por parte do ofendido, o suspeito foi apenas identificado.

Reações de repúdio sucedem-se, carta aberta a caminho da AR

Várias personalidades subscreveram um pedido ao Parlamento a solicitar leis mais duras contra a violência de extrema-direita. Depois da agressão, foi enviada uma carta aberta aos grupos parlamentares da Assembleia da República (AR) a pedir uma resposta legislativa em relação ao aumento dos casos de violência de extrema-direita.

À margem de uma visita à Feira Nacional de Agricultura, em Santarém, José Pedro Aguiar-Branco condenou a agressão ao ator Adérito Lopes.

O presidente da AR é, aliás, um dos nomes a quem se dirige a carta aberta que começou a circular. No documento, a que a SIC teve acesso, pode ler-se que a agressão à porta do Cinearte "não é um episódio isolado", e que, por isso, “é urgente uma resposta legislativa” em relação ao aumento dos casos de violência que envolvem a extrema-direita.

Os outros destinatários são o Presidente da República, o primeiro-ministro e os líderes dos grupos parlamentares.

Na redes sociais sucedem-se reações políticas. Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, condena a agressão e lembra que o Governo retirou do relatório de segurança interna a ameaça da extrema-direita. Já Rui Tavares, do Livre, escreve este é o resultado da “falta de clareza” na rejeição do discurso de ódio.

Também a ministra da Cultura enviou um comunicado às redações, no qual diz que a “Cultura não se intimida” e acrescenta que é preciso garantir que artistas, técnicos e público possam participar plenamente na vida cultural, com segurança, respeito e dignidade.