Elnaz Rekabi, de 33 anos, terminou em quarto lugar a competição, em Seul, no domingo, quando disputou a final com cabelo solto, depois de ter alinhado nas eliminatórias com o tradicional véu islâmico.

O gesto da atleta foi visto como uma demonstração de apoio às mulheres iranianas que protestam há um mês contra a obrigatoriedade do uso do 'hijab' após a morte de Mahsa Amini, em 13 de setembro, após ter sido detida por não respeitar o código do vestuário feminino.

A jovem curda, de 22 anos, morreu três dias após ser detida pela polícia da moralidade em Teerão por ter alegadamente infringido estas leis da República islâmica, em particular o uso do véu.

Na terça-feira, o governo iraniano tinha negado que a atleta tivesse sido detida e obrigada a regressar ao país depois da competição, apesar de a embaixada do Irão na Coreia do Sul ter confirmado o voo durante o dia.

Nesse mesmo dia, Elnaz Rekabi, "pediu desculpas" aos iranianos, por duas vezes, justificando que o seu hijab se tinha mexido inadvertidamente.

De acordo com a agência noticiosa AFP, ativistas dos Direitos Humanos no país islâmico disseram que estas declarações poderiam ter sido feitas sob pressão.

"Elnaz é uma heroína", gritaram dezenas de pessoas reunidas durante a manhã de hoje no exterior do aeroporto de Teerão, para receber a jovem efusivamente e com aplausos, enquanto erguiam telemóveis para filmar a sua chegada.

A atleta de escalada deixou as instalações aeroportuárias numa carrinha, perante uma multidão em que se contavam muitas mulheres sem o véu.

"Foi uma receção digna de uma heroína, feita em parte também por mulheres sem o véu obrigatório, no exterior do aeroporto. No entanto, as preocupações com a sua segurança permanecem", advertiu a organização não governamental Centro de Direitos Humanos no Irão, com sede no país.

Com um casaco de capuz preto e um boné, Elnaz Rekabi foi recebida pelos seus familiares, antes de falar à comunicação social presente.

"O ambiente na final e tendo tido de partir antes de estar preparada, emaranhei o meu equipamento técnico (...). Por isso, não tomei atenção ao lenço que devia ter usado. Regressei ao Irão em paz, de perfeita saúde, e conforme previsto. Peço desculpa ao povo iraniano pelas tensões criadas", reiterou Elnaz Rekabi.

O desporto tornou-se um tema sensível no Irão desde a morte de Mahsa Amini, com vários praticantes a manifestarem-se a favor dos direitos das mulheres, entre os quais o avançado do FC Porto Mehdi Taremi.

JP // APN

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