"Temos um biscate aqui, outro ali. Às vezes é uma parede para pintar" ou crianças que não têm escola por causa da pandemia "e os pais chamam os artistas para as poder ocupar", disse Elias Cumaio, artista residente em Maputo.

Elias Cumaio cresceu e vive no Bairro do Aeroporto, referência na produção artística no país.

Os batiques que Elias e os demais artistas do bairro produzem são habitualmente esticados em molduras e usados em decoração de interiores, uma arte que tem sido o sustento de várias famílias.

Num dia de venda normal, o lucro por cada peça vendida podia ir até os 500 meticais (seis euros), mas a pandemia de covid-19 acabou com os turistas e os demais compradores praticamente se eclipsaram.

"Estamos a reinventar-nos para colocar pão na mesa. Hoje posso dizer que acabo um mês sem vender uma obra de arte", referiu.

Elias é solicitado para pintar nas paredes de bares, residências e escolinhas.

O artista é chamado também para ensinar as crianças a pintar, a pedido dos pais.

"Chega um certo tempo em que de tanta fome, não dá para pensar se o lucro chega ou não. Se tenho dez obras, a minha intenção é vender e colocar pão na mesa", descreveu.

O artista lamentou que os artistas não possam viver condignamente e queixou-se de falta de oportunidades.

"Há casas bonitas com paredes vazias", acrescentou, apontando a falta de consumo interno da arte moçambicana.

O artista reclamou um apoio especial por parte do Estado para os artistas, usando fundos que lhes são cobrados em impostos.

Elias pinta e vende na Feira de Artesanato Flores e Gastronómica (Feima), na zona nobre da capital.

Mas, no local, vários colegas passam pelas mesmas dificuldades, como Sérgio Mazive, 42 anos, que trabalha nas artes há cerca de 20 anos com pintura e venda de batiques.

Com a crise provocada pela covid-19, "está tudo fechado", afirmou.

"Há pouca afluência de clientes" e no mercado interno as pessoas "estão mais inclinadas para a subsistência", comentou.

"Não há negócio, o negócio reduziu para menos de metade", queixou-se.

Antes chegava a vender entre 50 a 100 batiques por mês, especialmente no verão e férias.

Os seus maiores clientes eram empresas que compravam obras para dar como brindes em conferências realizadas no país, que deixaram de se realizar.

Agora, chegou-se ao ponto em que "até a alimentação é uma carência".

Moçambique regista, até ao momento, 1.111 casos de infeção pelo novo coronavírus, que causou nove mortes.

RYR // JH

Lusa/fim