Uma decisão que constitui um ataque de "uma violência sem precedentes" aos provedores privados de saúde empurrou os hospitais para uma inédita greve geral. "Não podemos permanecer passivos quando confrontados com uma decisão política que põe em risco os nossos estabelecimentos e compromete o acesso aos cuidados dos nossos pacientes", vinca Lamine Gharbi, presidente da Associação de Hospitalização Privada daquele país. Em causa está a decisão do governo de Macron de limitar a 0,3% a subida no financiamento ao setor, enquanto para a saúde pública foi decidido um aumento de 4,3%. "O governo tem de entender que, ao enfraquecer o setor hospitalar privado, está a enfraquecer todo o sistema de saúde", considera ainda o mesmo representante, apontando que, perante uma "situação insustentável", não resta outra escolha senão "entrar em greve para fazer ouvir a voz do setor".

Em França, a saúde privada representa mais de um terço dos cuidados hospitalares prestados (35%), mas ao contrário do que acontece por cá pesa apenas 18% nas despesas com seguros de saúde, sendo um setor convencionado -- ou seja, comparticipado pelo próprio Estado dada a sua relevância enquanto provedor de saúde imprescindível em redundância com a rede pública, garantindo o acesso aos cuidados de saúde a milhões de cidadãos franceses. Uma missão que Gharbi diz estar a ser "comprometida por decisões políticas de uma violência sem precedentes". Parados estarão também todos os clínicos que exercem a profissão em nome próprio, profissionais liberais e consultórios particulares.

Os privados avisam ainda que a decisão do governo de Macron compromete a sobrevivência de todo o setor, lembrando que a proporção de hospitais privados deficitários era de 25%em 2021, quase duplicando (40%) no ano passado. "Prevê-se que atingirá o nível alarmante de mais de 60% em 2024", dizem.

"À luz da lamentável falta de transparência e de qualquer tipo de auscultação do setor com o vice-ministro da Saúde", a hospitalização privada avança assim com uma greve a 3 de junho, com todos os hospitais e clínicas privados franceses a fechar portas -- exceto para serviços imprescindíveis, como a diálise -- , e decidiu ainda "limitar as suas interações com o Ministério ao diálogo essencial", prometendo "explorar todas as vias legais disponíveis a nível nacional e com cada estabelecimento de saúde para retificar esta injustiça e restabelecer a equidade".

A greve, que afetará mais de mil provedores de saúde que empregam mais de 200 mil profissionais de saúde, incluindo 40 mil profissionais liberais, constitui "uma resposta firme à decisão do governo de aumentar apenas 0,3% o financiamento para hospitais privados, enquanto os hospitais públicos beneficiarão de um aumento de 4,3%", concretiza a associação da hospitalização privada francesa, sublinhando a relevância do financiamento agora negado para concretizar aumentos salariais, o que considera igualmente inaceitável. "Esta decisão, que tem consequências desastrosas, foi tomada sem qualquer consulta aos intervenientes do setor e está a agravar uma situação já crítica em que os custos aumentam exponencialmente enquanto as tarifas continuam a ser insuficientes para garantir a gestão viável dos estabelecimentos", refere ainda o organismo liderado por Gharbi.