"A ideia nasceu em 2019, quando acabava de comprar o meu terceiro par de óculos de vista. Nesse instante, por instinto, algo me disse: cria os teus próprios [...] Decidi pedir demissão e abraçar a ideia, algo que representasse os nossos valores,", explica à Lusa o jovem "designer" a partir da sua residência, que também serve de oficina em Maputo.

Numa linha simples e alegre, as armações dos óculos de Celso são repletas de cores, num conceito que procura valorizar a identidade e diversidade cultural moçambicanas.

Cada "designe" é único, concebido a partir de madeira e chifres de boi reciclados num processo que começa na oficina de Celso, com a conceção da ideia, e termina com o trabalho dos artesões, envolvendo só "talento puramente moçambicano".

"Tudo começa mesmo na conceção, mas a magia ocorre mesmo no processo artesanal", explica Celso Ferreira, avançando que já há algumas parcerias com algumas óticas que pedem os óculos personalizados da Zambezi.

O investimento para a criação da empresa foi o principal desafio do jovem moçambicano, que preferiu vender o seu próprio carro para financiar um projeto que, no princípio, pareceu utópico para muitos.

"Inicialmente eu investi meu próprio dinheiro, mas no ano passado conseguimos um financiamento através de um programa de incubação. Este financiamento serviu para organizarmos melhor as nossas estratégias", afirmou.

Os preços começam com um valor mínimo de três mil meticais (43 euros), podendo variar em função das necessidades dos clientes, estando a empresa a produzir, em média, 60 por mês.

"Nós consideramos estes preços acessíveis em função da qualidade do produto. São óculos resistentes e, em caso de danos, nós reparamos", observou.

Embora destaque um assinalável progresso em termos de demanda, para Celso a Zambezi é mais que uma empresa: é uma ideia que serviu para "cura e aceitação pessoal" face a uma doença que o apoquenta desde 2009, o vitiligo.

"Eu sofro de vitiligo. É uma doença que embora não traga dor, normalmente, afeta o sistema emocional das pessoas, que acabam se fechando. Eu sofro disto desde 2009 e, com este projeto, queria mostrar as pessoas que como eu sofrem da doença que é possível inovar", frisou o jovem moçambicano.

O vitiligo é uma doença caracterizada pela perda dos melanócitos da pele, causando áreas de despigmentação cutânea em várias extensões, e, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, afeta 150 milhões de pessoas em todo o mundo.

"Esta doença afetou um pouco a minha forma de ver o mundo e eu quero, com o projeto, inspirar os que também sofrem com isto. Mostrar que é possível e que não se devem limitar devido à doença", declarou Celso Ferreira.

A meta agora é expandir a marca dentro e fora do país, lançando outro tipo produtos com o mesmo conceito, entre pastas e carteiras.

"Nós ainda queremos crescer e a ideia é deixar a nossa marca, mas principalmente a nossa identidade, como moçambicanos", concluiu

EYAC // PJA

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