As autoridades são-tomenses e internacionais e a sociedade civil têm feito apelos para conter discursos de ódio e a violência pré e pós-eleitoral nas eleições concorridas por dez partidos e uma coligação.

Após o sorteio da ordem dos tempos de antena, na quarta-feira, o presidente da Comissão Eleitoral Nacional, José Carlos Barreiros apelou aos partidos a divulgarem conteúdos "sem insultos, de uma forma pacífica, e com moral" apresentando aos eleitores os "programas para o desenvolvimento de São Tomé e Príncipe".

Por outro lado, o presidente da Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe e analista político, Liberato Moniz, considera que "a campanha eleitoral já existe há muito tempo" no país, referindo que apenas faltou a realização de comícios.

No entanto, a dois dias do início oficial da campanha, Moniz diz esperar "uma campanha aberta, dialogante, com projetos, onde haja debates de ideias" e que os eleitores possam "efetivamente perceber dos projetos [dos partidos] para São Tomé e Príncipe".

O analista lamenta que "em São Tomé e Príncipe hoje já não se consegue fazer nenhuma reunião" ou debates com afluência do público eleitor sem exigirem "um incentivo de comida, de bebida", ou mesmo dinheiro.

"Eu fico triste porque os partidos mesmo no poder ou mesmo na oposição [...] não têm feito nenhum trabalho no sentido de sensibilizar efetivamente a população são-tomense, dentro e fora do país, para que isso seja diferente", pontuou Liberato Moniz em declarações à Lusa.

Por sua vez, a médica e analista Ana Maria Costa alertou para que durante o período da campanha eleitoral não haja "o uso e o usufruto dos meios de comunicação social exclusivamente para o partido e os partidos do Governo".

"Em democracia nós temos que ter a maturidade e a inteligência, a elevação e o desenvolvimento pessoal e intelectual suficiente para despirmo-nos das nossas cores partidárias e sermos pura e simplesmente honestos", sublinhou apelando para "que haja de facto maturidade, disciplina, urbanidade e que as pessoas se respeitem".

"Eu poço gostar do partido 'a, b, c, d...', isso não pode implicar que eu tenha que odiar, insultar, maltratar, quase que até agredir fisicamente aquele que não gosta do meu partido ou não defende a minha ideologia", defendeu Ana Maria Costa.

O gestor e também analista político, Celsio Junqueira considerou que nestas eleições o "fenómeno banho" (compra de voos com dinheiro), ficará reduzido quase que só à 'boca de urna'.

"Como ultimamente o mundo tem estado em crise e a crise afetou também os partidos políticos e atores político, já não há aquele dinheiro [...] o pouco que há faz-se a campanha porta a porta, algumas reuniões em algumas comunidades rurais. Já não há aquela campanha de ostentação financeira, há uma campanha de racionalidade", explicou Celsio Junqueira.

Dez partidos e uma coligação vão concorrer às eleições legislativas de São Tomé e Príncipe: Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe / Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), Ação Democrática Independente (ADI), Basta, Movimento Democrático Força da Mudança/União Liberal (MDFM/UL), União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD), CID-STP, Movimento Unido para o Desenvolvimento Amplo (Muda), Partido Novo, Movimento Social Democrata/Partido Verde de São Tomé e Príncipe (MSD-PVSTP), Partido de Todos os Santomenses (PTOS) e a coligação Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista/Partido da Unidade Nacional.

O MLSTP/PSD que lidera a coligação no governo são-tomense apresenta como cabeça de lista no distrito de Água Grande e candidato a reeleição no cargo de primeiro-ministro o presidente do partido, Jorge Bom Jesus.

A ADI, maior partido da oposição, apresenta o presidente do partido e ex-primeiro-ministro (2014-2018), Patrice Trovoada, que é cabeça de lista no distrito de Lobata, apesar de não poder votar naquele distrito de São Tomé.

Patrice Trovoada mudou a sua residência eleitoral para Portugal onde se encontra desde 2018 quando deixou a governação e, como as autoridades são-tomense não realizaram a atualização do caderno eleitoral antes das eleições de 25 de setembro, ficou impedido de mudar o local de para o distrito de Lobata onde concorre como deputado.

No distrito Lobata está também o presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves que concorre pelo recém-criado Movimento Basta! que integra maioritariamente os dirigentes do partido de Convergência Democrática (PCD). O dirigente abdicou de uma candidatura autónoma para se se incorporar neste movimento que congrega vários militantes de outras forças políticas, incluindo o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e o ex-secretário-geral da ADI, Manuel Salvador dos Ramos e Levy Nazaré, respetivamente.

As eleições legislativas elegem 55 deputados à Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe, incluindo dois que pela primeira vez serão eleitos pelos círculos eleitorais da Europa e da África.

 A ADI foi o partido mais votado nas eleições de 2018, elegendo 25 deputados, seguida pelo MLSTP/PSD, que conseguiu 23 assentos.

A coligação então formada pelo Partido da Convergência Democrática (PCD, segundo maior partido da oposição), pela UDD, e o MDFM foi a terceira formação mais votada, obtendo cinco mandatos. O Movimento de Cidadãos Independentes de São Tomé e Príncipe/Partido Socialista (MCI/PS) ocuparam dois lugares no parlamento.

MLSTP e a coligação PCD-UDD-MDFM formaram a chamada 'nova maioria' e constituíram governo, liderado por Jorge Bom Jesus. 

 

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