
Os seis principais alimentos importados pela União Europeia estão ameaçadas pelas alterações climáticas e pela perda da biodiversidade nos países produtores, alerta um relatório publicado na quarta-feira, 21 de maio. Esta é a primeira vez que um estudo tem em conta estas duas ameaças.
O estudo da consultora britânica Foresight Transitions, encomendado pela Fundação Europeia do Clima, uma iniciativa filantrópica independente que trabalha para ajudar a enfrentar a crise climática, analisou os seis produtos mais importados pela UE em 2023: cacau, café, soja, arroz, trigo e milho. Concluiu que a maioria destas mercadorias vem de países que estão mal preparados para enfrentar os impactos das alterações climáticas.
Chocolate em risco: 96,5% do cacau vem de zonas vulneráveis
O cacau, que a Europa não produz, é especialmente vulnerável. Quase 97% do cacau importado pela UE em 2023 vem de países com baixa capacidade de adaptação climática e 77% vem de regiões com fraca integridade da biodiversidade.
A maioria das importações de cacau tem origem em países da África Ocidental, como a Costa do Marfim e o Gana, onde os riscos ambientais são elevados.
Perda de biodiversidade agrava os efeitos da crise climática
Os investigadores alertam que a perda de biodiversidade enfraquece a resiliência agrícola, tornando os sistemas de produção mais frágeis perante fenómenos climáticos extremos, como secas, inundações ou pragas.
"Estas não são ameaças abstratas. Já estão a afetar empresas, empregos bem como a disponibilidade e o preço dos alimentos para os consumidores, e estão a piorar", alerta Camilla Hyslop, autora principal do relatório, citada pelo The Guardian e pelo Libération .
Milho, trigo e arroz também em risco
Outros produtos alimentares essenciais enfrentam riscos semelhantes: 90% do milho importado pela UE vem de países com fraca preparação climática; 67% vem de zonas com baixa ou média biodiversidade.
O trigo e o arroz seguem padrões semelhantes de risco.
Empresas têm de investir na resiliência das cadeias de produção
O relatório defende que os grandes fabricantes de chocolate têm de investir investir na adaptação climática e na proteção da biodiversidade nos países produtores de cacau.
"Não se trata de altruísmo, mas uma forma vital de reduzir riscos para o abastecimento", lê-se no relatório.
Pagar um preço justo aos agricultores permitir-lhes-ia investir em práticas mais sustentáveis e resistentes às alterações climáticas, concluem os autores.
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