Vivemos décadas de transformações profundas. A população cresceu a um ritmo vertiginoso e, nas sociedades industrializadas, passámos de tempos de escassez para uma era de abundância e consumo. Hoje, mesmo quem vive no meio do oceano Atlântico pode receber quase qualquer produto em poucos dias. A produção em massa democratizou o acesso, mas também nos mergulhou numa cultura de consumo impulsivo, assente na sobre-exploração de recursos — frequentemente para além da sua capacidade de regeneração.
A era do descartável trouxe conforto, sim, mas a que custo? As emissões poluentes dispararam e os efeitos são visíveis em todo o planeta, ainda que existam zonas mais vulneráveis, fazendo Portugal continental e as Regiões Autónomas parte destas. As alterações climáticas deixaram de ser uma previsão e tornaram-se realidade. Compreensível no passado, talvez, para gerações que viveram muitas privações. Mas hoje, temos conhecimento, tecnologia e responsabilidade para fazer diferente — e fazer a diferença.
A sustentabilidade, mais do que um chavão, é a capacidade de gerar valor com os recursos disponíveis, assegurando o progresso da sociedade sem comprometer o futuro das próximas gerações. Embora atualmente muito associada às questões ambientais, a sua origem está profundamente ligada à justiça social. Foi com essa visão integrada que surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, formalizado no Relatório Brundtland (1987), e que se tornou a base para a Agenda 2030, adotada em 2015, com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Nesse mesmo ano, o Acordo de Paris marcou um compromisso global para limitar o aquecimento global, estabelecendo metas de neutralidade carbónica até meados do século.
Contudo, as perspetivas são preocupantes. Segundo os relatórios mais recentes da ONU, mesmo com os compromissos assumidos, o planeta caminha para um aumento de temperatura de cerca de 2,5 a 2,9 °C até 2100 — muito acima da meta ideal de 1,5 °C. Os progressos existem, nomeadamente nas energias renováveis, mas o ritmo de mudança é insuficiente. Sem ações mais ambiciosas, o Acordo de Paris corre o risco de se tornar uma promessa não cumprida.
Neste contexto, é encorajador ver a União Europeia assumir um papel de liderança mundial, com políticas ambientais robustas e uma agenda de financiamento sustentável com uma escala sem precedentes. Ainda que alguns argumentem que isso limita a competitividade, vale a pena perguntar: queremos seguir o modelo de crescimento de administrações erráticas, despóticas e retrógradas que negam a ciência e o clima, ou liderar pelo exemplo e pela responsabilidade?
A inação terá um custo muito superior ao da transição. O agravamento das condições climáticas ameaça a própria base da nossa existência em várias regiões do planeta. E se, perante esse cenário, os recursos financeiros passarem a ser canalizados para o militarismo e o armamento, talvez o debate sobre sustentabilidade nem chegue a tempo de ser terminado.
Mas há também sinais de esperança. Em 2016, tive o privilégio de integrar o Governo Regional dos Açores com a missão de alinhar as políticas de desenvolvimento turístico com os princípios da sustentabilidade ambiental e energética. Através de um trabalho conjunto com autarquias, associações, empresas e comunidades, conseguimos, em 2019, um feito notável: os Açores tornaram-se o primeiro arquipélago do mundo certificado como Destino Turístico Sustentável pela EarthCheck.
Está tudo feito? Longe disso. Esse foi apenas um passo. Mas é prova de que é possível traduzir palavras em ação. Que o turismo continue a ser, para os Açores, não só um motor económico, mas também um exemplo para outras regiões. Um turismo que respeita, valoriza e protege — verdadeiramente sustentável.
O futuro exige coragem, visão e compromisso. Falar de sustentabilidade é fácil; demasiado fácil. Fazer, com consistência, é o verdadeiro desafio. Mas é, também, a única escolha sensata.
Economista nos Açores
