Nos últimos dias a Espanha tem sido surpreendida com os detalhes mais sórdidos e indecentes de um processo que começou como um escândalo de corrupção, mas agora já vai bem mais longe. Nos dias que correm é o Estado de Direito que está em risco. Nada mais, nada menos do que isso.

A teia urdida pelos membros mais destacados e poderosos do PSOE é tão densa e vasta que se torna fastidioso enunciar todos os delitos de que são suspeitos e acusados ministros, dirigentes, assessores, todos eles dirigidos por Pedro Sánchez, e alguns deles seus amigos pessoais e companheiros imprescindíveis da sua subida ao poder.

O que começou por serem suspeitas de adjudicações corruptas de obras públicas pelos mais próximos de Sánchez no partido e no governo, aparentemente corroboradas por gravações e escutas acabou por deslizar para a descrição mais desprezível de mentiras e crimes políticos de todo o tipo. Com a investigação em curso pela UCO da Guardia Civil, vamos sabendo que as adjudicações foram mais numerosas do que se pensava e a corrupção mais chocante.

Que percorreram mais ministérios do que inicialmente se pensava. A par dessa corrupção que alegadamente além de financiar o património pessoal de vários membros do PSOE, financiou também o próprio partido e as campanhas de Pedro Sánchez, veio também a corrupção moral e política não financeira.

Ábalos, no centro desta vergonha nacional, há não muito tempo proclamava-se, tal como Pedro Sánchez e um governo de esquerdas, extrema-esquerdas, apoiado por criminosos e terroristas independentistas, como “feminista”. E “feminista porque sou socialista”, dizia este hipócrita com a expressão convicta de que só os mentirosos profissionais são capazes. Isto foi dito na dianteira de um governo cuja única orientação digna desse nome parecia ser precisamente o feminismo.

Ora, a Espanha soube não só que Ábalos era um frequentador ininterrupto de prostitutas, pagas com dinheiros públicos, como ele e outros usaram prostitutas para fomentar a sua rede de corrupção, referindo-se a elas como peças de carne sem dignidade.

Mais, distribuíram pelas suas prostitutas empregos em empresas públicas. Desde o resgate leonino à Air Europa, aos negócios levados a cabo pela mulher de Sánchez, às falcatruas do seu irmão, começam a ser difíceis de contar os casos que são apontados ao núcleo duro do Presidente do Governo.

Ao seu pior estilo, o estilo a que habituou a Espanha perante até muito recentemente o silêncio cúmplice das instituições europeias, Sánchez jogou a cartada do animal feroz.

Com um governo já morto, ele não desiste e dispara em todas as direcções. As acusações desesperadas à oposição são o menos relevante aqui, embora o seu tweet dizendo que, independentemente de tudo o resto, recusava-se a “entregar o governo à oposição mais inútil, tóxica e divisiva da nossa história”, revela bem o espírito democrático deste homem, em cuja cabeça deixou de se aceitar o princípio democrático de não ser um chefe do governo a decidir a quem se entrega o governo numa democracia, mas o povo eleitor.

Entre as coisas mais graves que se tem descoberto por estes dias é a perseguição à independência judicial, que Sánchez quer liquidar, à investigação judiciária, que Sánchez quer interromper, ao jornalismo livre, que Sánchez tem, com a preocupante cooperação de outros jornalistas e importantes órgãos de comunicação social rendidos ao poder, acossado.

Este caso tem mostrado como os jornais e jornalistas sectários que cooperam com a corrupção instalada no poder, abafando as investigações, fazendo correr mentiras patrocinadas pelo poder, auxiliando a descredibilização mentirosa da oposição, são sempre um poderoso instrumento de desvitalização da democracia.

Como o é o sectarismo demonstrado pelos deputados do PSOE e da extrema-esquerda Sumar a fazer as mais despudoradas profissões de lealdade por aclamação, negando as evidências, atacando quem ponha em causa o direito divino ao governo de que eles se julgam investidos. Maria Jesus Montero, vice-presidente do Governo, é a este título o exemplo mais embaraçoso.

Como se isto não fosse suficiente, a cereja no bolo das suspeitas e das acusações aparece agora com o rosto do ex-Presidente do Governo do PSOE, José Luiz Zapatero.

O verdadeiro patrono político de Sánchez, Zapatero tornou-se nos últimos anos no Schroeder espanhol, entregando-se ao regime chavista venezuelano sem pudor nem escrúpulos. Sempre pronto a destruir os apoios à oposição ao regime chavista, tal como tem sido denunciado pela oposição venezuelana desde há anos, Zapatero tem sido um verdeiro embaixador do regime nicaraguano de Ortega, ou do regime cubano dos Castros.

Só que agora as suspeitas são mais graves – a de que Zapatero estaria feito com a PDVSA, a empresa petrolífera venezuelana, donde receberia comissões chorudas, distribuídas por membros do governo espanhol, traficando petróleo venezuelano a contornar as sanções impostas por EUA e UE.

Com isso teria até, seguem as suspeitas, financiado a campanha internacional de Sánchez cuja vaidade o obcecou com a liderança da Internacional Socialsta, coisa que conseguiu em 2022 e incrivelmente ainda mantém. A confirmarem-se as suspeitas, tratar-se-ia de um escândalo cuja gravidade seria incomparável no contexto europeu.

Sánchez tentará travar as investigações por todos os meios possíveis. O que não conseguir travar, ele negará. E negará toda e qualquer responsabilidade no que ficar comprovado. Mas o que se sabe é ja demasiado grave. Resta então a condenação do pior governo da Europa. A começar pelos seus mais próximos aliados: a esquerda e a extrema-esquerda portuguesa.

De Zapatero no governo ninguém foi mais apoiante na Europa do que José Sócrates. De Sanchez no governo ninguém foi mais apoiante na Europa do que António Costa. De resto, Costa bem pode dever a Sanchez o seu lugar de Presidente do Conselho Europeu. Além disso, as cumplicidades políticas do BE com o Podemos e com o Sumar, e do Livre com o Más Madrid, são sobejamente conhecidas.

Dela, da esquerda portuguesa, nem uma sílaba se fez ouvir, apesar de não se calarem quanto aos atentados ao Estado de Direito noutros países mais distantes. O silêncio pode servi-los momentaneamente. Mas depois não se queixem que a sua credibilidade ética e política se tenha desfeito em pó. Para sectarismos hipócritas já bastam os que vêm do PSOE.