
"Desse modo, lembrem-se de que salvaguardar o bem da pessoa significa não apenas cuidar de alguns de seus interesses setoriais, mas promover sua plena realização e dignidade. E, nesse nível, o encontro entre aqueles que têm mais possibilidades e aqueles que estão na pobreza, longe de se reduzir a mera filantropia, é sempre uma oportunidade providencial de enriquecimento recíproco."
— Papa Francisco
Desde cedo, o Papa Francisco propôs um olhar mais profundo e exigente sobre o tema da filantropia, oferecendo pistas para o desenvolvimento de uma “filantropia da dignidade” — uma que reconhece, transforma e se deixa transformar, afastando-se das visões assistencialistas e tradicionais.
Ao longo do seu pontificado, denunciou aquilo a que chamou uma “filantropia estética”, muitas vezes praticada apenas para aliviar consciências ou melhorar a imagem e reputação de quem a exerce. Em vez disso, apela à construção de sistemas que intervenham verdadeiramente na realidade, que reduzam desigualdades em vez de as perpetuar.
No seu discurso ao Fórum Social Mundial em 2014, afirmou: “O grande tema é a dignidade humana e a solidariedade. Não podemos fazer da ajuda uma forma de dominação.” Esta frase ressoa como um apelo à participação ativa dos beneficiários na definição das iniciativas e das políticas de combate à desigualdade. A verdadeira filantropia, para ser plena, não se pode limitar à distribuição de recursos — deve ser uma prática partilhada pela e para a humanidade.
A visão do Papa Francisco vai além da lógica do dar: ela aponta para o encontro. A filantropia, na sua perspetiva, não empobrece quem dá — enriquece. Promove uma visão global, relacional, baseada na capacidade de sentir, escutar e comprometer-se. Envolver-se com os outros, sobretudo com os que mais sofrem, é, para ele, uma dádiva. Como afirmou “é sempre uma oportunidade providencial de enriquecimento recíproco”.
Este é talvez o maior desafio que o Papa Francisco lançou à filantropia contemporânea: sair da lógica do doador - beneficiário e entrar na lógica do “nós”.
Não se trata de caridade, mas de fraternidade. E isso, verdadeiramente, muda tudo.
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