A revista Visão ficou cega e faliu. É precisamente esse modelo de notícias com agenda política oculta, com ligações perigosas ao poder e contando com favores institucionais, exigindo subsídios públicos enquanto foge ao fisco, que proclama o combate às fake news mas esconde as suas próprias contas, que os portugueses rejeitam. E bem.
Há dúvidas? Basta lembrar que, apesar de ter processos executivos instaurados, e ter dívidas ao Estado desde 2018, nunca figurou na lista de devedores fiscais nem da Segurança Social, como bem informou o Página Um.
O que é que os jornalistas dessa revista deram em troca para serem poupados a essa humilhação a que são sujeitos tantos cidadãos?!
Enfim, o jornalismo está a suicidar-se, em direto, a cores e também ao vivo. O mais curioso é que, enquanto cava a sua própria sepultura, culpa os outros pelo seu comportamento autodestrutivo.
Os jornalistas são, hoje, das classes profissionais mais odiadas. Quase metade dos portugueses já não confia em notícias, na maioria das vezes. Em Portugal, essa confiança atingiu o seu valor mais baixo em dez anos (desde o início do Digital News Report). Regista-se. assim, uma descida de dois pontos percentuais face a 2024 e de dez pontos percentuais face a 2015. Todos os dias, as televisões perdem espectadores, os jornais leitores, etc. A erosão e a sangria são sistemáticas. Mas porquê?
Ainda agora, a propósito do fecho da Visão, muitos vieram com a narrativa do costume: a responsabilidade é das redes sociais, da desinformação, do desinteresse dos cidadãos pelas notícias, dos russos, do alinhamento dos astros.
Inúmeros desses jornalistas, e salvo honorabilíssimas exceções, são altamente tendenciosos — basta ver o posicionamento sobre Torre Pacheco — e nunca são escrutináveis, não declaram as suas evidentes preferências partidárias (conflitos de interesses) nem tão pouco os seus patrocínios. Pior: nunca param para meter a mão na consciência, refletir e mudar o seu comportamento.
O problema é que, em vez de produzirem notícias, muitos deles (da Visão incluídos), vergaram-se a outros interesses – económicos, políticos e de egos. Muitos egos. É isso que realmente afasta o público, posto que apenas a insenção e a imparcialidade são identidade do jornalismo independente. Podem continuar a arranjar bodes expiatórios que a verdade é que, por mais que custe ao jornalismo, ninguém o defenestrou do 25.º andar, nem ninguém o pendurou na forca. No jornalismo, as ameaças vêm de dentro, de direções e até redações que colocam a sua promoção pessoal, os amiguismos, as ligações políticas e as relações empresariais acima da missão que é e só pode ser o jornalismo.
Claro que o jornalismo – livre e independente como deve ser intrinsecamente – só existe com profissionais íntegros, comprometidos com a verdade e a ética. E claro que a democracia só sobrevive com jornalismo corajoso e rigoroso. E, mais claro ainda, nenhum jornalismo digno desse nome perdurará a ser sustentado pelo Estado ou pela União Europeia, como já está a acontecer.
Um jornalismo protegido pelos governos chama-se propaganda. Pois. Até porque, em terra de cegos, quem tem olho é rei.
Ativista Política//Escreve à quarta-feira no SAPO