O que queres ser quando fores grande? Esta é uma questão que colocamos às crianças desde cedo, mas são principalmente os jovens que concluem o ensino básico que se deparam com estas questões. A entrada no ensino secundário impõe a escolha de uma área de formação. Há quem sonhe ser jogador de futebol, influencer, tiktoker, médico, professor, mas é pouco frequente ouvirmos alguém dizer: "Quero ser agricultor."

Porque será que isto acontece? Terá a agricultura uma conotação negativa? Será um trabalho menos valorizado e reconhecido pela sociedade? Saberão os nossos jovens e adolescentes o que faz realmente o agricultor?

Consciente de que a inteligência artificial está ao nosso serviço, perguntei ao ChatGPT "o que sabem as crianças sobre o leite", por ser uma questão à qual sou sensível.

Eis a resposta obtida (copiada na íntegra):

“O que as crianças sabem sobre a produção de leite pode variar bastante dependendo da idade, do contexto em que vivem (urbano ou rural) e das experiências educacionais que já tiveram. Em geral, muitas crianças, especialmente em ambientes urbanos, têm conhecimentos limitados ou superficiais sobre a origem do leite. Alguns pontos comuns:

O que muitas crianças sabem:

  • O leite vem da vaca: Esse é o conhecimento mais comum. Muitas crianças aprendem isso desde cedo.
  • Leite é vendido em caixinhas ou garrafas no mercado: Para muitas, essa é a principal forma de contacto com o leite.
  • Leite é usado para fazer outros alimentos: Como queijo, iogurte, manteiga.

O que muitas crianças não sabem (ou têm noções imprecisas):

  • Como o leite é retirado da vaca: Muitas não sabem o que é ordenha ou pensam que o processo é sempre feito manualmente.
  • Que o leite passa por processos industriais: Como pasteurização, resfriamento e transporte.
  • O cuidado com os animais: Pouco conhecimento sobre a alimentação da vaca, cuidados veterinários, bem-estar animal.
  • Que há outros animais que produzem leite: Como cabras e ovelhas.

Influências:

  • Educação escolar: Algumas escolas abordam esse tema em aulas de ciências ou em visitas a quintas.
  • Media e livros infantis: Podem simplificar ou romantizar o processo.
  • Vivência rural: Crianças que moram no campo ou têm contacto com quintas tendem a ter um conhecimento mais realista.”

Estou plenamente de acordo com o ChatGPT. De facto, a população vive em meios cada vez mais urbanos e distantes da produção de alimentos e muito do contacto que as pessoas, principalmente as crianças, têm com os alimentos são pelas prateleiras dos supermercados. Quais as consequências disto? As pessoas são facilmente enganadas, porque se, de facto, muita é a informação a que temos acesso, esta é muitas vezes descontextualizada e enviesada, pelo que rapidamente prolifera e passa uma ideia errada do setor.

A agricultura, como muitos outros setores, passou por um processo de evolução e desenvolvimento que a maioria da população desconhece, mas é importante que se tenha conhecimento para haver consciência do quão extraordinário é o trabalho do agricultor.

Foi neste contexto que, em 2016, me questionei: “Quem melhor do que os agricultores para comunicar e dar a conhecer a agricultura?”

E a resposta surgiu com a criação do projeto “Leite é Vida”. Este é um projeto de produtores para consumidores, em que dois jovens agricultores substituíram as sementes que lançam à terra por informação. De uma forma dinâmica e criativa definimos uma estratégia de comunicação da produção de leite. Através de workshops de queijo fresco nas escolas e visitas a vacarias, damos oportunidade a que crianças, educadores e professores conheçam a produção de leite e tenham contacto com os animais. É um momento muito rico de partilha e troca de experiências.

Nove anos passaram e a nossa missão mantém-se pela mão de um grupo de mulheres agricultoras que dedica um pouco do seu tempo a dar a conhecer o seu trabalho.

Quais as lições que retiramos após nove anos de atividade e de mais de 10 mil crianças que participaram nas nossas atividades?

Testemunhámos o que já sabíamos: são muitas as dúvidas, questões e a desinformação que prolifera. A distância aos meios de produção faz que muita informação errada seja tomada como verdadeira. Além disso, enquanto antigamente os avós passavam muito tempo com os netos, cuidavam da horta e criavam animais (galinhas, coelhos, porcos), hoje trabalham até mais tarde, têm estilos de vida diferente e a educação recai unicamente nas escolas.

Infelizmente verificamos também que os manuais escolares transmitem informação desatualizada sobre o setor agrícola e somos questionadas sobre isso. Verificamos inclusive o ar de espanto de muitos professores quando partilhámos as regras, cuidados e exigências associadas à produção de leite e carne. Na agricultura já recorremos a técnicas do uso eficiente da água (sondas de humidade no solo e na planta, rega gota a gota), luta biológica, agricultura de precisão, uso de energias renováveis, mas os manuais continuam a retratar o agricultor como aquele que gasta muita água e polui o ambiente.

Todos sabemos que os planos curriculares carecem de profundas alterações, mas permitam-me sonhar com o dia em que os alunos portugueses contactem com o setor primário, visitem vacarias, hortícolas, docas de pesca, etc.  É fundamental dar a conhecer a origem dos alimentos para desenvolver hábitos alimentares saudáveis, perceber a relação entre alimentação e saúde, valorizar a produção agrícola e a natureza. Conhecer de onde vêm os alimentos contribui para fazer escolhas mais conscientes.

Cada pessoa é livre de escolher os alimentos para se nutrir, mas queremos que o façam com informação. Por isso é com muito orgulho e grande sentido de missão que com afinco, paixão e sentido de compromisso damos a conhecer o nosso trabalho.

A agricultura é uma arte e o agricultor é um verdadeiro artista.

Leite
Leite créditos: DR

Vice-presidente da APROLEP