Quantos de nós não passámos a acompanhar o PSG por causa de Messi, a Juventus por causa de Cristiano Ronaldo ou a Roma por conta de José Mourinho? Não existe, grosso modo, qualquer tipo de ligação afetuosa ou histórica a essas equipas ou clubes, mas elas têm um ativo que faz toda a diferença: estas personagens-estrela. E este é um movimento natural e até benéfico. Na década de 90, verificámos exatamente o mesmo fenómeno com a NBA, que contava com Michael Jordan como figura maior da franquia de Chicago. Jordan não deu a ganhar só à sua equipa. Ele foi a figura maior da exportação do fenómeno NBA, que então se espalhou pelo mundo, ancorada na magia que o atleta espalhava pelas quadras. No futebol, a tendência para se seguir mais as estrelas do que as equipas é até benéfico, porque atrai fãs, espectadores, dinheiro e até glamour. Uma pessoa pode não estar interessada em ver o Manchester United jogar contra o Brighton, mas todos queremos ansiosamente ver que recorde vai Cristiano quebrar em cada jogo que faz.

Numa época em que as pessoa apreendem, em parte, o mundo através das redes sociais, basta comparar o número de seguidores que têm os maiores clubes do mundo e os que têm os maiores futebolistas no Instagram.

Tendo esta introdução por base, foquemo-nos no Caso Cristiano. Claramente que, em termos mediáticos, Cristiano é maior do que o clube em que atua e o Manchester United precisa mais do astro português do que ele do clube. O patamar de Cristiano é no Olimpo do Futebol, junto de deuses como Messi, Maradona e Pelé. Será, suspeito, o expoente maior do futebol português durante muitos e muitos anos – até aparecer alguém que seja tão ou mais monstruoso do que ele. A lenda de Cristiano está escrita e vai ficar para sempre. E, assim sendo, Cristiano torna-se atualmente no expoente máximo da tese do consumo da individualidade no futebol que apresentei no início do texto. A sua grandeza, indiscutível, parece fazer o próprio Cristiano, e quem o rodeia (vejam-se as manifestações da família nas redes sociais), achar-se mais importante do que a entidade que lhe paga e do qual ele é funcionário. E este é o Engano da Grandeza. A falsa perceção de que todos os outros se têm de moldar a si, de que ninguém é mais importante ou capaz do que ele.

Quaisquer razões que apresente para justificar o seu comportamento, convém não esquecer que Cristiano se recusou a fazer pré-época, enquanto era oferecido e rejeitado por clubes em praça pública; saiu do estádio a meio de um jogo por 2 vezes; reclamou ao ser substituído; recusou-se a entrar num jogo. E depois de tudo isto, dá uma entrevista ao tablóide mais tablóide do Reino Unido e diz sentir-se "traído". Como se sentirá o clube? Como se sentirão as pessoas que insultou na entrevista?

Lembrando que esta discussão não é sobre a capacidade técnica dos treinadores que Cristiano teve nesta passagem pelo Manchester United. É sobre uma estrela que se deixou cegar pelo próprio brilho e saiu a disparar contra tudo e contra todos numa entrevista que, ainda não tendo saído, parece que o vai deixar mais pequeno do que com razão. Mas é claro que o clã Aveiro e todos os que discutem futebol com dogmas vão ignorar tudo isto e arranjar sempre argumentos pouco lógicos para defender as atitudes menos nobres.

É esperar pela entrevista de 90 minutos (!) que sai quinta-feira, para termos mais contexto e enquadramento, e esperar que Cristiano marque uns 40 golos durante o Campeonato do Mundo no Qatar e saia de lá de forma gloriosa. Mas há coisas que nem os maiores podem fazer. Cristiano chutou o pau da barraca com toda a gente lá dentro. E isso não pode ser aceitável nem no desporto, nem na vida. Deixou-se enganar pela sua grandeza.

Diogo Luís Teixeira, Estudante