Um dos seus primeiros objectivos é que os produtos que cria sejam consumidos pelo maior número de pessoas possível. Foi o design que conseguiu comprimir dentro de uma ambulância e, mais tarde, de um helicóptero, os aparelhos imprescindíveis para emergências médicas. Interessante, porque não costumamos pensar neste tema desta forma.

Os objectos de design passaram a ser consumidos em larga escala, tornando o quotidiano das pessoas mais agradável – e exequível. Isto leva-me à ideia revolucionária de que o design tem de ser para todos. Dos 7 mil milhões de pessoas que representam a população mundial, qualquer coisa como 90% tem pouco ou nenhum acesso à grande maioria dos produtos e serviços que tomamos como garantidos; pior ainda, mais de 3 mil milhões não têm acesso regular a comida, água potável ou abrigo. Foi por isso que surgiu o projecto “Design for the Other 90%”, que expõe uma vontade crescente dos designers de desenvolverem soluções de baixo custo; não para um conjunto restrito e endinheirado de pessoas, mas para as outras. Através de parcerias criativas e com propósito, indivíduos e organizações procuram encontrar respostas aos desafios de vida e progresso dos mais pobres e marginalizados. Vale a pena visitar o portal em https://www.designother90.org/ e conhecer algumas das invenções a pensar nos “outros 90%”.

Um dos objectos mais impressionantes criados neste projecto foi a LifeStraw (“palhinha da vida”), concebida pela empresa dinamarquesa Vestergaard Frandsen Group. É um dispositivo portátil para purificação de água, a pensar nos países mais pobres com graves problemas no acesso a água potável, que pode salvar a vida a milhões de pessoas por ano. Tem uma taxa de mortalidade bacteriana de 99,9999% e isso é absolutamente extraordinário.

Inevitável reflectir também sobre o design para as minorias. Se um objecto for desenhado também para pessoas com limitações ou portadoras de deficiência será útil para todos os cidadãos. Porque as necessidades de uns são as necessidades de todos. Felizmente, cada vez mais designers propõem soluções acessíveis e socialmente responsáveis. Actuam segundo os postulados do design inclusivo.

Apesar do caminho já percorrido, é urgente continuar passo a passo e desmistificar a ideia de que o design é uma disciplina dedicada a minorias economicamente privilegiadas. Design é idealização, concepção e acompanhamento de produção, mas é também reflexão sobre a vida das pessoas e de como se pode melhorá-la.

O design inclusivo, que se destina a todos, sem excepções, é aquele que, desde o início do processo criativo, tem em conta que a população jovem e saudável é só parte de um possível público-alvo. Há muito mercado fora desta segmentação.

Diferentes aspectos devem ser repensados para incluir não só pessoas com necessidades especiais — que podem até ser temporárias —, mas também idosos ou estrangeiros (que não dominam um idioma fluentemente, por exemplo). Dessa forma, o design inclusivo vai além de garantir a acessibilidade e precisa de estar presente em diversas esferas do nosso quotidiano, não só na arquitectura.

O que impede gamers cegos de serem um sucesso nesse ramo? Como fazer com que pessoas com deficiência auditiva se envolvam no mundo da música? Ou, ainda: de que forma o design pode ajudar pessoas com algum tipo de deficiência a usarem os produtos ou serviços que estão disponíveis no mercado?

O maior objectivo do design inclusivo e universal é criar uma sociedade mais justa, acessível e igualitária. A par do envelhecimento da população, há franjas da sociedade que merecem atenção e exigem uma mudança de paradigma do mercado.