Era uma tarde de março no Rio de Janeiro. Na Tijuca, em Botafogo, em Ipanema e por toda a Cidade Maravilhosa, a vida acontecia, calma e rotineiramente. Havia¸ no entanto, um pequeno lugar na cidade, na zona Norte, onde, nessa mesma tarde do ano de 1961, se estava prestes a escrever um pedacinho de uma História que seria tão grande que transbordaria as fronteiras do Rio, do Brasil e da América. No Maracanã, a multidão instalava-se, sem a mais pequena noção do que os esperava. O cartaz era um Fluminense x Santos, para o Torneio Rio-São Paulo. O estádio estava lotado e nada poderia impedir a lenda de ser escrita: a tarde mítica e mitificada, contada de avô para neto, de pai para filha. Por gerações.

Aos 40 minutos da primeira parte, o Santos vencia o jogo por 1-0. Ainda no meio campo defensivo do Santos, a bola chega aos pés de um rapazinho de 20 anos, o jovem Edson. Quem? Esse mesmo, O Pelé. O estádio, maioritariamente carioca e fluminense, irrompeu numa vaia. Mas nem isso parou o jovem Edson: o que se viu a partir daí, foi História. Pelé partiu para cima da equipa do Fluminense, numa arrancada antológica, e passou por oito jogadores até chegar ao guarda-redes, que driblou. Bola por um lado, Pelé pelo outro. Foi deslumbrante, mágico, inesquecível. Acima de tudo, inigualável. Não há imagens desse golo, que vive na memória das 130 mil pessoas que assistiam ao jogo e que se levantaram para aplaudir aquele que, anos mais tarde, viria a ser conhecido como O Rei. Para a eternidade, fica a placa oferecida pelo jornalista Joelmir Betting e hoje exibida no saguão do Maracanã. E assim nasceu a expressão que ainda hoje se utiliza no Brasil para descrever um golo bonito, um “gol de placa”.

O futebol é assim. É sentimento e imaginação. É o que vemos acontecer, mas também o que não vimos. É o que é contado, recontado, romanciado e até imaginado. É Pelé. E é-o de igual forma e intensidade para o senhor José que estava no Maracanã nessa tarde de ’61, para a mulher que ouviu o marido emocionado contar o que viu, e para a filha e os netos que memorizaram a história como se estivessem lá estado. Hoje, todos eles choram.

Porque Pelé é sinónimo de amor. Paixão eterna por um futebol que encantou um país e ultrapassou fronteiras. Que quebrou as barreiras da cor, da língua e da distância. Primeiros sinais de globalidade de algo que viraria mais do que um jogo. E Pelé mais do que uma lenda. O Rei.

Como o próprio disse uma vez: “Pelé não vai morrer, palavra de Edson”. E tinha razão. Há pessoas que não morrem e lendas que não acabam. O Rei continua vivo. E assim seguirá.

Obrigado, Pelé.

Diogo Luís Teixeira, Estudante