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Como fazer muito com tão pouco? A eficiência e a sustentabilidade na produção de laticínios

Os produtores nacionais recebem menos 7 cêntimos por cada litro de leite produzido em Portugal, face à média europeia. A médio prazo, este desequilíbrio põe em causa a viabilidade da produção nacional.
Como fazer muito com tão pouco? A eficiência e a sustentabilidade na produção de laticínios

O congresso do European Dairy Farmers (EDF) acontece neste ano pela primeira vez em Portugal. Mais de 380 profissionais do setor do leite oriundos de toda a Europa reúnem-se na Póvoa de Varzim para partilhar conhecimentos, analisar tendências e explorar novas práticas na pecuária leiteira.

O mais interessante deste evento é ser organizado por produtores e para produtores. Durante um ano, um grupo de produtores de leite nacional aumentou a sua carga de trabalho para organizar um evento desta envergadura a fim de promover o setor agrícola nacional e dar a conhecer o que de melhor se faz por cá. É uma oportunidade de troca de informação e networking entre técnicos e produtores que inclui visitas a vacarias portuguesas.

A eficiência e sustentabilidade na produção de laticínios é o tema central do evento constituído por palestras, workshops interativos e visitas de campo.

As visitas de campo decorrerão em oito vacarias e é uma oportunidade para dar a conhecer o profissionalismo, desenvolvimento, evolução e potencial do setor leiteiro nacional.

O preço do leite, as alterações geográficas na produção global, a inteligência artificial (IA) na agricultura, renovação geracional e alguns temas mais técnicos (preparação do solo, rotação de culturas, irrigação) serão alguns dos temas debatidos.

Ente vários temas em debate o preço do leite é o que mais preocupa, no imediato, os produtores nacionais porque está em causa a sustentabilidade económica da produção de leite.

Este é um setor envelhecido e atualmente os produtores nacionais recebem menos 7 cêntimos por cada litro de leite produzido. No que se refere a projetos de investimento, apenas os jovens têm acesso a apoio ao investimento e é insuficiente para as candidaturas submetidas. Importa realçar que grande parte das empresas agrícolas não têm jovens agricultores para poder usufruir destes apoios, mas as empresas precisam de reforçar a sua competitividade, investir em inovação, tecnologia e aumentar a eficiência e rentabilidade.

A nossa localização geográfica e dimensão já nos tornam menos competitivos e muito dependentes do que acontece em Espanha.  A não atualização do preço levar-nos-á à falta de competitividade e a afastarmo-nos cada mais do mercado europeu.  A título de exemplo, uma vacaria em Portugal recebe em média menos 15% em leite que uma vacaria na Europa. A médio prazo, este desequilíbrio põe em causa a viabilidade da produção nacional e as reduções/cortes que possamos fazer serão meros “cuidados paliativos” que em nada interessam para o futuro da produção nacional.

A IA vem transformar a forma de produzir, apresenta soluções para aumentar a eficiência, reduz custos e melhora a sustentabilidade. As aplicações da IA no setor agrícola são inúmeras e vão desde a automatização de tarefas, a monitorização de sementeiras, a otimização de recursos e a previsão de riscos. A utilização da IA tem grandes vantagens para a produção agrícola, contribui para um aumento da produtividade e eficiência na produção agrícola, potencia o uso mais eficiente de recursos, ajuda a reduzir o impacto ambiental da agricultura, otimiza a utilização de recursos e minimiza o uso de produtos químicos, etc.. Efetivamente a utilização da IA permitirá alavancar o setor, mas só será viável a aquisição desta tecnologia se as empresas tiverem rentabilidade para fazer face a estes investimentos. Nos últimos 15 anos, Portugal teve um preço médio pago ao produtor inferior quando comparado com os outros países europeus.

Ocorrerá renovação geracional no nosso país se continuarmos com estes preços pagos à produção? Estarão os nossos jovens dispostos a assumir um negócio sem grandes margens de rentabilidade? Porque é que Portugal não acompanha o preço europeu?

A flexibilidade, resiliência e capacidade de superação são competências desenvolvidas pelos produtores de leite porque ultrapassaram muitos desafios nos últimos anos. Estarão as novas gerações dispostas a abdicar do seu bem-estar, de tempo de qualidade com a família em prol de um negócio?

Estou confiante de que este congresso será muito enriquecedor, responderá a muitas das dúvidas dos produtores e trará certamente novidades e esperança num futuro onde a agricultura será cada vez mais valorizada e os agricultores reconhecidos pelo seu importante contributo.

Vice-presidente da APROLEP

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