Há quem diga que o mar purifica a alma. No entanto, este refúgio de serenidade também precisa de nós para se manter limpo e saudável. Quando comecei a surfar, há mais de três décadas, o meu único foco era o tamanho das ondas e a direção do vento. Mas, com o tempo, passei a reparar que o que flutuava à minha volta – garrafas, sacos, embalagens, redes de pesca –, não pertencia àquele ecossistema.

Estes resíduos não desaparecem com o recuo da maré. Fragmentam-se, alimentam os peixes, acumulam-se na areia e infiltra-se na nossa cadeia alimentar. Ameaçam todo o ecossistema marinho e o que advém dele, como os desportos de mar, e também representa um risco para a saúde pública. Portugal, que detém uma das maiores áreas marítimas do mundo, está especialmente exposto a estas consequências.

Mais do que um cenário idílico ou um recurso económico, o oceano é um organismo vivo e fundamental à vida. É responsável pela regulação do clima, é uma fonte significativa de oxigénio para o planeta e serve de sustento para milhões de pessoas. Protegê-lo não é opcional, é uma necessidade inadiável.

Neste aspeto, nos últimos anos, a comunidade do surf tem dado passos expressivos, ao adotar práticas mais conscientes. Surgiram projetos que transformam plásticos recolhidos em pranchas, eventos de ativismo ambiental e nota-se um esforço acrescido e coletivo em prol da sustentabilidade. Estas iniciativas demonstram que a mudança é possível e que todos temos um voto na matéria no que diz respeito à promoção de alternativas responsáveis.

Não obstante, é necessário ir mais além. Um estudo recente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revelou que 88% dos resíduos recolhidos em 14 praias de Portugal Continental eram de plástico. Além disso, no ano passado, outro relatório da APA indicava que mais de 80% da poluição que atinge os oceanos tem origem em terra e é transportada por rios e ribeiras.

Devemos, por isso, ampliar estas boas práticas, como, por exemplo, optar por equipamentos produzidos com materiais reciclados, reforçar a educação ambiental nas escolas, fomentar a participação em campanhas de sensibilização e ações de limpeza costeiras e, quando visitamos zonas litorais, podemos optar por hotéis e operadores turísticos que seguem princípios sustentáveis.

Foi a experiência no surf que me ensinou a observar a natureza, a respeitar os ciclos do mar e a reconhecer os seus sinais, que têm exigido cada vez mais ação urgente. Acredito que todos os que encontram no mar uma fonte de sustento, lazer ou inspiração têm um papel a desempenhar. Neste Dia Mundial do Ambiente, deixo um apelo: que protejamos o nosso planeta e a vida marinha, pois, por mais vasto que pareça, o oceano não é inesgotável. Não se pode surfar a onda sem cuidar do mar que a levanta.

Tiago Pires, organizador do evento PRIO Softboard Heroes e ex-surfista profissional