Ao longo de décadas, os incêndios florestais têm vindo a destruir vastas áreas de floresta em Portugal e no mundo, causando danos ambientais irreversíveis, prejuízos económicos e colocando vidas em risco. O combate a este flagelo exige uma abordagem multifacetada, onde se destacam as soluções preventivas que ajudam a mitigar os riscos. Uma dessas soluções é a instalação de painéis solares, que além de desempenharem um papel importante na prevenção de incêndios florestais, também promovem a transição energética.

Com o crescimento da energia solar em Portugal, nomeadamente através de projetos de larga escala, torna-se pertinente refletir sobre o impacto positivo que estes mesmos projetos podem ter na gestão florestal, uso do território e redução do risco de incêndios.

Uma das principais causas de incêndios florestais é a acumulação de matéria vegetal seca, que age como combustível em épocas de calor intenso. A instalação de painéis solares, em áreas estratégicas, pode contribuir para a gestão eficaz dessas zonas, uma vez que o solo onde os painéis são instalados necessita de estar livre dessa vegetação e é assegurada manutenção e monitorização adequada dos locais.

A limpeza regular ou plantação de espécies rasteiras nas áreas ao redor dos painéis solares, para evitar sombras sobre os módulos fotovoltaicos, também tem um efeito colateral positivo: a redução de vegetação seca e de outros materiais inflamáveis, tornando essas zonas menos propensas a incêndios. Ao mesmo tempo, é regenerado o solo, permitindo armazenamento de carbono.

A instalação de parques solares em áreas rurais ou próximas a florestas pode também criar "zonas de segurança". Estas áreas, onde a vegetação é reduzida ou eliminada, funcionam como barreiras naturais contra o avanço de incêndios florestais, ajudando a retardar ou mesmo impedir a propagação das chamas.

Além disso, a presença de infraestruturas como estradas de acesso e áreas de manutenção associadas às instalações solares facilita a intervenção dos bombeiros e de outras forças de combate a incêndios.

Devemos, ainda, referir que a expansão dos sistemas fotovoltaicos trouxe consigo o desenvolvimento de tecnologias de monitorização em tempo real que podem ser adaptadas para a vigilância de incêndios, recorrendo a sensores adicionais que supervisionam a temperatura ambiente e a qualidade do ar, ajudando a detetar focos de incêndio nas redondezas.

Outro ponto de relevância é o incentivo à instalação de parques solares em áreas rurais ou florestais abandonadas, que são frequentemente as mais suscetíveis a incêndios. Ao instalar painéis solares em terrenos que, de outra forma, seriam deixados ao abandono e ao crescimento descontrolado de vegetação, promove-se uma utilização responsável e sustentável desses espaços. Esta abordagem também traz benefícios socioeconómicos, gerando empregos locais e dinamizando regiões mais remotas.

Desta forma, a instalação de painéis solares em áreas florestais ou rurais não só contribui para a tão necessária transição energética, como também pode ser uma ferramenta poderosa na prevenção de incêndios florestais. A criação de zonas de segurança, a redução de vegetação inflamável e a implementação de tecnologias de monitorização são apenas alguns dos benefícios que os parques solares podem trazer ao esforço nacional de combate aos incêndios.

Com uma abordagem integrada e planeada, onde empresas de energia renovável colaboram com as autoridades florestais e os serviços de emergência, é possível transformar a energia solar numa aliada estratégica no combate a incêndios florestais. Assim, o setor das energias renováveis pode não só liderar a luta contra as alterações climáticas, como também contribuir ativamente para a preservação das nossas florestas e da segurança das populações.

Voltalia Group Chief Technology Officer e Country Manager para Portugal