Com um diagnóstico assente na volatilidade tarifária, inflação persistente e incerteza macroeconómica estão a minar a confiança do consumidor e a travar o ímpeto de compra. A consultora antecipa que os envios globais de smartphones em 2025 se fixem nos 1,2 mil milhões de unidades — um número robusto, mas que denuncia uma estagnação estrutural.

A revisão da IDC insere-se num panorama de transição no qual o mercado caminha para uma maturidade difícil de digerir. Entre 2024 e 2029, o crescimento médio anual deverá rondar uns anémicos 1,4%, sustentado por uma combinação de fatores contraditórios: por um lado, a penetração de smartphones continua a crescer em mercados emergentes; por outro, os consumidores estão a adiar cada vez mais o ciclo de substituição, e o mercado de equipamentos recondicionados continua a ganhar tração, canibalizando novas vendas.

Estas dinâmicas são particularmente visíveis em mercados como o norte-americano e o chinês — tradicionalmente os motores do setor — que agora assumem um papel mais contido.

Na China, a IDC antecipa um crescimento de 3% nas vendas de smartphones em 2025, impulsionado por subsídios governamentais que favorecem fabricantes locais e estimulam a procura por equipamentos Android. Este impulso não acontece por acaso: as autoridades chinesas continuam empenhadas em reforçar a autonomia tecnológica do país, e as marcas nacionais estão a capitalizar esse apoio.

A Apple, por outro lado, deverá ver as suas vendas no país cair 1,9%. A erosão da sua quota de mercado tem múltiplas causas: uma concorrência mais agressiva da Huawei, exclusão dos esquemas de subsídio estatais e a travagem do consumo interno. Ainda assim, a consultora prevê um ligeiro alívio durante os festivais de compras — tradicionalmente um terreno fértil para promoções agressivas — e com a chegada do iPhone 17, que deverá introduzir novidades relevantes ao nível do hardware.

Nos Estados Unidos, a IDC previa um crescimento de 3,3% em 2025, mas revê agora a expectativa para 1,9%. As razões não diferem muito do contexto global: pressões inflacionárias, aumento dos preços devido a tarifas comerciais e um clima de incerteza que contrai a despesa das famílias. Os operadores e retalhistas terão de recorrer a estratégias criativas para manter o interesse dos consumidores — desde pacotes de serviços a incentivos de fidelização — num mercado onde o 5G já não é, por si só, fator de compra.

Paradoxalmente, nunca os smartphones foram tão avançados — nem tão difíceis de vender. Com câmaras que rivalizam DSLR, processadores comparáveis a portáteis e ecrãs que desafiam a física do consumo energético, os equipamentos de última geração deixaram de ser um “upgrade” obrigatório para se tornarem uma escolha racional e ponderada. A utilidade marginal de trocar de dispositivo a cada dois anos está a diminuir, especialmente em tempos de incerteza económica.

A revisão em baixa da IDC não é apenas um ajuste numérico. É o reflexo de um mercado que perdeu o seu fôlego expansionista e que entra agora num ciclo de maturidade exigente. Para os fabricantes, a sobrevivência já não passa por lançar mais modelos, mas por otimizar portefólios, aumentar margens e explorar novas fontes de receita — dos serviços à inteligência artificial embutida.

O crescimento não desapareceu, mas está mais raro, mais difícil e mais estratégico. Os que souberem ler os sinais e reinventar o modelo de negócio sobreviverão. Os que continuarem à espera de uma nova corrida ao ouro, arriscam-se a ficar com os bolsos vazios.