A transformação digital nas grandes organizações deixou de ser um exercício retórico para se tornar numa corrida real, com impacto direto na forma como os colaboradores trabalham, interagem e criam valor. Um dos casos mais ilustrativos desta mudança silenciosa – mas profundamente estrutural – vem de Madrid, onde o Indra Group, referência global em defesa, tráfego aéreo, espaço e tecnologia digital, acaba de divulgar os primeiros resultados da adoção em larga escala da inteligência artificial generativa no seu tecido operacional.

Em apenas um ano, mais de 3.000 colaboradores da Indra começaram a utilizar ativamente o Microsoft 365 Copilot, solução baseada em IA generativa, integrada nas ferramentas Microsoft já familiares aos utilizadores. Com presença em mais de 140 países e um universo de 57 mil colaboradores, a empresa revela agora que os ganhos vão muito além da simples produtividade: “Estamos a assistir a uma mudança cultural no modo como as nossas equipas operam – mais ágil, mais criativa e com foco na inovação”, sublinha Luis Navarrete, CIO do grupo e impulsionadora do programa.

A implementação do Copilot não foi um simples exercício tecnológico. Sustentada por uma metodologia própria, desenvolvida internamente e ancorada em quatro pilares – formação estruturada, rede de utilizadores-chave, casos de uso transversais e comunicação alinhada com os objetivos do negócio – a Indra orquestrou uma operação que mais se assemelha a uma revolução industrial do século XXI, com IA no papel de catalisador.

A responsável pela Governação e Estratégia de Sistemas de Informação do programa, Carmen Bauset Carbonell, descreve o processo como “industrializado”, mas profundamente humano: “Investimos em capacitar os nossos profissionais e em criar uma rede de ‘campeões’ que lideram a adoção por dentro, tornando a IA parte do seu quotidiano profissional”.

Os dados internos são expressivos: 79% dos utilizadores consideram úteis os casos de utilização desenvolvidos; há uma poupança média de duas horas por semana por colaborador – um valor que poderá triplicar com a maturação da utilização da ferramenta – e a produtividade aumentou 5%. A satisfação com o Copilot está nos 4 pontos em 5, segundo as métricas internas.

Mas são os testemunhos das equipas que revelam a verdadeira mudança. Esperanza Marchante, da área de Mobilidade, e Patricia Leal, responsável de Desenvolvimento de Negócios na Minsait (subsidiária digital da Indra), destacam o salto qualitativo nas propostas comerciais e a redução de 90% no tempo necessário para tarefas repetitivas, como análise documental ou elaboração de apresentações.

IA como motor da estratégia

A adoção do Microsoft 365 Copilot foi alicerçada na sua integração nativa com as ferramentas de produtividade já utilizadas, como o Word, Excel, PowerPoint e Outlook. “A escalabilidade e a segurança da plataforma foram determinantes para a nossa escolha”, explica Julia Martos, Head of Information Systems Technology. A colaboração com a Microsoft não se ficou pela simples adoção tecnológica, tendo evoluído para um modelo de coinovação.

Um dos desenvolvimentos mais relevantes foi a criação de agentes inteligentes personalizados com o Agent Builder, entre os quais se destaca o Indra M365 Copilot Helper, um assistente digital concebido para acelerar a curva de aprendizagem e democratizar o acesso ao conhecimento sobre a ferramenta.

O programa, que já cobre mais de 80% da base elegível de utilizadores, prepara-se agora para entrar numa nova fase de crescimento: a integração de mais 1.500 utilizadores em todo o mundo e a implementação do Copilot Chat a uma escala transversal. A ambição da Indra vai além da sua própria transformação: através da Minsait, vencedora do prémio Microsoft Spain Partner of the Year em 2024, a empresa posiciona-se agora como parceiro estratégico na transformação digital de entidades públicas e privadas.

A aposta estende-se a todo o ecossistema Microsoft, incluindo o Copilot Studio e as chamadas tecnologias Agentic, com foco na personalização de soluções, gestão da mudança e criação de valor através da inteligência artificial.

Com as empresas em rápida transformação, onde a pressão por eficiência e diferenciação não abranda, a experiência da Indra mostra uma lição: a integração inteligente da IA generativa não é um luxo experimental, mas uma condição de competitividade. Mais do que adotar tecnologia, trata-se de reposicionar o trabalho humano no centro de uma nova economia da atenção, da criatividade e da decisão assistida.