De acordo com Márcio Tavares, são diagnosticados cerca de 800 novos casos de mieloma múltiplo por ano em Portugal. “É um cancro no qual os plasmócitos, que em condições normais são os glóbulos brancos responsáveis pela produção dos nossos anticorpos, se multiplicam de forma desregulada na medula óssea e produzem uma proteína anormal que se acumula no organismo, capaz de lesar vários órgãos, em particular, os rins”, explica.

O médico indica que, ao contrário de outros cancros, como o do pulmão, da pele ou do esófago, no caso do mieloma múltiplo ainda não estão claramente estabelecidos os comportamentos de risco que levam ao seu aparecimento. “É mais frequente no sexo masculino e em indivíduos de raça negra. Não se trata de uma doença hereditária, embora pontualmente se identifiquem vários casos de mieloma na mesma família”.

“A idade avançada é um fator de risco importante. O risco de desenvolver mieloma aumenta significativamente a partir dos 60 anos.”

Os sintomas podem ser inespecíficos, confundindo-se com outras patologias, o que faz com que, por vezes, o diagnóstico seja realizado tardiamente. “Os sintomas mais frequentes são o mal-estar, o cansaço ou a fadiga progressiva que resultam da anemia, bem como as dores ou fraturas ósseas. Outros sinais de alerta são a insuficiência renal e as infeções de repetição, em particular, as infeções respiratórias”. Apesar disso, Márcio Tavares afirma que alguns casos são também diagnosticados numa fase inicial através de exames de rotina, quando não se apresentam sintomas relacionados com o mieloma.

No campo dos tratamento o médico refere que estes evoluíram significativamente nos últimos anos com a introdução de novos fármacos, com diferentes alvos terapêuticos e mecanismos de ação, bem como com um perfil de reações adversas distinto da quimioterapia clássica. “É a doença hematológica que registou um maior número de fármacos aprovados nos últimos anos. Importa sublinhar que os doentes não são tratados todos da mesma forma, o tratamento é sempre individualizado e adaptado, não só ao perfil de cada um (idade, comorbilidades, condição física), como às características do mieloma”.

Devido aos avanços de tratamento nas últimas décadas, e apesar de incurável, o mieloma múltiplo “está a evoluir para uma doença crónica”. De modo geral, Márcio Tavares afirma que os doentes podem esperar viver mais anos com melhor qualidade de vida e com a doença controlada.

O médico salienta ainda que, quanto a novidades terapêuticas, “o futuro é promissor”. “O mieloma mantém-se uma doença incurável e, ao longo dos anos, cada doente poderá necessitar de mais do que um esquema de tratamento”. Nesse sentido, “encontram-se em fases avançadas de desenvolvimento novas terapias imunológicas e celulares com o potencial de oferecer uma resposta duradoura nos doentes que deixam de responder aos melhores tratamentos atualmente disponíveis”, conclui.

CG

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