O glaucoma crónico de ângulo aberto é uma das principais causas de cegueira irreversível em todo o mundo, incluindo Portugal. É uma doença ocular silenciosa que se caracteriza pelo dano progressivo do nervo ótico com perda gradual e silenciosa da visão periférica, podendo terminar na cegueira absoluta. Estima-se que existam em Portugal aproximadamente 200 mil pessoas com glaucoma e que uma percentagem grande possa não saber que tem a doença, devido à falta de sintomas óbvios nas suas fases iniciais. São fatores de risco para a doença, a hipertensão ocular, a história familiar de glaucoma, a miopia, raça negra e a idade.

O glaucoma crónico de ângulo aberto é conhecido como o “ladrão silencioso da visão”. Os sintomas são inexistentes nas fases iniciais. Contudo, nas fases mais avançadas podem surgir:

  • Visão periférica reduzida, resultando na formação de manchas cegas (escotomas);
  • Visão em túnel, onde a pessoa só consegue ver o que está diretamente à sua frente;
  • Por fim, cegueira absoluta.

É muito importante fazer o diagnóstico precoce do glaucoma para evitar a sua progressão e a perda irreversível da visão. A consulta periódica no seu médico Oftalmologista, sobretudo após os 40 anos, é fundamental para fazer esta deteção precoce. Estar à espera de ver mal para fazer uma avaliação pelo seu médico é um erro que sai caro nesta doença, como em muitas outras. A visão perdida não se recupera mais. E apesar de haver perda de visão, primeiro periférica, o doente não tem a perceção dessa perda, na maioria das vezes. Através de exames oftalmológicos regulares, que incluem a medição da pressão intraocular, avaliação do nervo ótico e análise do campo visual, é possível identificar alterações sugestivas de glaucoma antes de haver perda de campo visual.

O tratamento do glaucoma crónico de ângulo aberto tem como objetivo principal controlar a pressão intraocular elevada, que é um fator de risco significativo para o desenvolvimento e progressão da doença. Se o glaucoma for tratado precocemente e de forma adequada, o risco de cegueira é reduzido. As opções de tratamento podem incluir:

Colírios: Medicamentos oftálmicos (gotas) que ajudam a reduzir a pressão intraocular, geralmente aplicados diariamente. É muito importante que as gotas sejam colocadas sempre de forma adequada e de acordo com a prescrição do médico Oftalmologista. Uma das causas de falta de resposta ao tratamento é a colocação incorreta das gotas.

Tratamento com laser: Procedimento realizado em ambulatório para melhorar a drenagem do humor aquoso e reduzir a pressão intraocular.

Cirurgia: Em casos mais avançados, pode ser necessário realizar uma cirurgia para melhorar a drenagem do humor aquoso e reduzir a pressão intraocular.

O glaucoma crónico de ângulo aberto é uma doença ocular relativamente comum em Portugal e capaz de causar cegueira total e irreversível. O diagnostico precoce e o tratamento adequado e atempado são fundamentais para preservar a visão ao longo da vida. A ausência de sintomas até fases avançadas da doença e a falta de consultas regulares com o médico oftalmologista, sobretudo depois dos 40 anos, explicam parcialmente o grande número de doentes em Portugal que perdem visão e que cegam de forma irreversível devido ao glaucoma. A adesão ao tratamento, de acordo com a prescrição do médico oftalmologista e a monitorização regular da sua eficácia são fundamentais para tratar esta patologia que silenciosamente “rouba a visão” dos doentes.

Rufino Silva, médico oftalmologista,
Professor associado Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Diretor Clínico: CLIORS Lda.

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