A diabetes é uma condição crónica grave associada a complicações difusas e a um risco acrescido de morte prematura, impondo uma enorme pressão financeira nos sistemas de saúde e economias nacionais. Em 2021 (10th edition of the IDF Diabetes Atlas), relata um aumento global continuo na prevalência da diabetes, tornando-se esta patologia um desafio significativo para a saúde e o bem-estar das pessoas, famílias e sociedade.

Em Portugal, em 2021, existiam cerca de 2,7 milhões de portugueses com diabetes ou em risco de desenvolver esta patologia. Sendo a diabetes responsável ainda neste ano por 6,7 milhões de mortes devido a complicações agudas (ou seja, cetoacidose diabética, coma hiperosmolar e hipoglicemia grave) e insuficiência renal precoce.

Podendo estas complicações ser prevenidas através de um conjunto mínimo de ações centrais, que incluem o acesso a cuidados de saúde (incluindo monitorização da glicose e serviços prontamente disponíveis para descompensação aguda) e literacia em saúde, incluindo o diagnóstico precoce de Diabetes Mellitus tipo 1 e cetoacidose.

Desde que os cuidados de saúde em países de elevado rendimento provaram ser eficazes na redução da mortalidade devido a estas complicações, é razoável supor que reduções importantes poderiam ser vistas a nível global se fossem prestados melhores cuidados, incluindo maior acessibilidade aos cuidados de saúde, de forma mais generalizada (Global Burden of Disease 2019, Diabetes Mortality Collaborators, 2022).

AS Nações Unidas (ONU) (2021), salienta ainda que a diabetes é a única das doenças crônicas cujo risco de morte precoce tem aumentado. Pelo que lançou um novo Pacto Global de Combate à Diabetes com o objetivo de melhorar as ações de prevenção diagnóstico e tratamento, bem como aumentar as ações e compromissos para criação de medicamentos mais baratos.

Os avanços recentes na investigação e na produção das tecnologias têm vindo a alterar a prestação de cuidados em várias áreas terapêuticas e no percurso dos doentes desde a fase de prevenção, até ao tratamento, em que se pretende que o mais importante, seja a evolução das condições dos doentes e a obtenção de qualidade de vida.

A Inteligência Artificial (IA), é uma das tecnologias que está a ser cada vez mais adotada na área da saúde, suscitando um crescente interesse e pesquisa por Especialistas, Investigadores e Profissionais de saúde. Como qualquer tecnologia poderosa, tem inúmeros benefícios e riscos potenciais, no entanto assume uma enorme importância, uma vez que tem o potencial de transformar diagnósticos, tratamentos e gestão de cuidados de saúde (Ellahham, 2020).

É uma tecnologia que permite que computadores e máquinas simulem a inteligência humana e as capacidades de resolução de problemas (Cabanelas, 2019). Abrange o Aprendizado de Máquina e Aprendizado Profundo que são usados para construir algoritmos para apoiar modelos preditivos do risco de desenvolver diabetes ou as suas consequentes complicações.

De acordo com Júnior (2024), na diabetes algumas formas pelas quais a IA pode ser vantajosa são:

  • Diagnóstico precoce e prevenção de complicações: Algoritmos de IA podem analisar grandes conjuntos de dados, registos de monitoramento de glicose (MCG), para identificar padrões que possam indicar o desenvolvimento da diabetes ou complicações associadas. Permitindo desta forma intervenções mais precoces para prevenir complicações graves.
  • Personalização do tratamento: A IA pode ajudar a personalizar o tratamento da diabetes com base nas características de cada doente (idade, género, perfil genético, padrões de atividade física e resposta à medicação). Estabelecer planos de tratamento mais eficazes e reduzir o risco de complicações.
  • Monitorização continua da glicose e automação de insulina: Utilização de dispositivos de monitorização continua de glicose (MCG) e sistemas de bomba de insulina automatizados estão a tornar-se mais comuns. Algoritmos de IA podem ser usados para interpretar os dados do MCG em tempo real e ajustar automaticamente as doses de insulina, proporcionando um controle glicémico mais estável e reduzindo a carga de autogestão para os doentes.
  • Aconselhamento e apoio ao doente: Chatbots e Assistentes Virtuais baseados em IA podem fornecer ajuda aos doentes com diabetes, esclarecendo dúvidas, oferecendo lembretes para medicação e estilo de vida saudável, e até mesmo fornecer apoio emocional.
  • Pesquisa e descoberta de novos tratamentos: A IA pode ser usada para analisar grandes quantidades de dados de ensaios clínicos e literatura médica, para identificar alvos terapêuticos, entender melhor os mecanismos subjacentes à diabetes e desenvolver novos tratamentos mais eficazes.

Importa salientar, que embora a IA ofereça muitas oportunidades promissoras na área da Diabetes, nomeadamente em ajudar o doente a melhorar a autogestão da sua diabetes, também há desafios a serem superados, levantando questões éticas, de privacidade e segurança dos dados, garantindo a confiabilidade e interpretabilidade dos algoritmos e integrando efetivamente as soluções de IA nos sistemas de saúde existentes.

Para os profissionais de saúde é importante desenvolver competências transversais e clínicas especificas para poderem utilizar da melhor forma esta tecnologia e prestar cuidados com qualidade e eficiência ao doente diabético. Importa reter que a IA nunca irá substituir o cuidado direto do profissional de saúde, no entanto o impacto desta tecnologia exigirá um repensar da prática clínica que incluirá novos conceitos e modelos virtuais de prestação de cuidados.

Por conseguinte, há ainda um longo caminho a percorrer em matérias de regulação, financiamento e comercialização desta tecnologia no sistema de saúde, além de um estudo mais prolongado no tempo sobre a sua eficácia e segurança.

Em suma, aplicação da IA na diabetes introduzirá uma mudança de paradigma no tratamento, nas estratégias convencionais de autogestão e qualidade dos cuidados de saúde, direcionados e baseados em dados.

Referências Bibliográficas

Cabanelas, O. J. (2019). Mercados y Negocios. (40) 5-22. DOI: 10.32870/myn.v0i40.7403.

Ellahham, S. (2020). Artificial Intelligence: The Future for Diabetes Care. Aug;133(8):895-900.doi

: 10.1016/j.amjmed.2020.03.033.

GBD 2019 Diabetes Mortality Collaborators (2022). Diabetes mortality and trends before 25 years of age: an analysis of the Global Burden of Disease Study 2019. DOI:https://doi.org/10.1016/S2213-8587(21)00349-1

International Diabetes Fédération (2021). IDF Diabetes Atlas. 10th ed. Brussels, Belgium: International Diabetes Federation.

Júnior, O. L. (2024). O uso da inteligência artificial na saúde: avanços e desafios. Disponível em: https://medicinasa.com.br/uso-ia saude/#:~:text=O%20uso%20da%20Intelig%C3%AAncia%20Artificial%20na%20sa%C3%BAde%20tem,precis%C3%A3o%20e%20a%20qualidade%20dos%20cuidados%20de%20sa%C3%BAde.

Nações Unidas (ONU) (2021). Perspectiva Global Reportagens Humanas.

Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2021/04/1747602

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