
Há mais de 20 anos que a associação Búzios, em parceria com outras entidades e muitos voluntários fazem de Coruche um porto de abrigo para o corpo e mente dos peregrinos que por esta altura passam pelo concelho a caminho do Santuário de Fátima.
Alexandre Tadeia, Presidente da Búzios – Associação de Nadadores Salvadores de Coruche, começa por explicar ao NS, que o apoio aos peregrinos começou na associação em 2002, sendo efetuado agora tal como há 23 anos atrás, com os voluntários a prestarem apoio de socorrismo aos peregrinos de Fátima que passam pelo concelho de Coruche.
“Temos duas formas de apoiar, durante o dia com a nossa viatura que se desloca principalmente aqui nos itinerários entre Coruche e Almeirim, onde além de fornecermos água, também fornecemos aconselhamento e prestamos cuidados de socorrismo, caso seja necessário”, refere Alexandre Tadeia.
De acordo com o responsável pela associação, nos últimos foi também identificada a necessidade de apoiar a Proteção Civil e a Guarda Nacional Republicana (GNR) na travessia dos peregrinos entre a Rotunda do Monte da Barca e Coruche, na Estrada Nacional 114, uma vez que foi identificada a sua perigosidade, numa via que não tem bermas e onde os automobilistas abusam da velocidade.
Assim que chegam aos locais de pernoita, este ano essa foi feita no Pavilhão Multiusos de Coruche, a Búzios, “em parceria com a Ordem de Malta”, presta apoio de socorrismo aos peregrinos, seja com massagens de recuperação, tratamento de inflamações, cuidados de enfermagem, sobretudo nos pés onde se verificam a maioria das lesões dos peregrinos.
“Há pessoas que chegam a Coruche vindas de Beja, de Loulé ou de Olhão, são pessoas que vêm já com muitos quilómetros e ainda faltam mais 100 para chegar a Fátima, pelo que é importante não só este apoio, como também a parte motivacional”, refere Alexandre Tadeia. “Este trabalho de motivação que faz com que a pessoa continue”, afirma.
Cada peregrino recebe também um folheto onde além dos contactos, são também dados alguns conselhos para que possam ultrapassar as últimas etapas. “Esse folheto tem também aconselhamento de como é que se caminha, o que é que se deve levar na mochila, como se preparar durante a caminhada, o que deve fazer, principalmente a parte do alongar a cada hora e de e a cada duas horas voltar a hidratar os pés”, dois concelhos fundamentais para chegar ao Santuário de Fátima.
Nos últimos anos Alexandre Tadeia tem notado uma grande evolução na preparação dos peregrinos e dos seus grupos, cada vez mais organizados e melhor preparados, o que levou a que a Búzios prescindisse da montagem de tendas ao longo do percurso, e se concentrasse no ponto de pernoita em Coruche.
Embora o foco principal da Búzios seja o salvamento e desporto aquático, esta missão “está devidamente enquadrada na missão da associação de “ajudar o próximo””, salienta o responsável, que destaca que todo o trabalho é realizado com base no voluntariado, fundamental para o sucesso da missão da associação que realiza este trabalho sem qualquer apoio monetário. Para a missão deste ano a Búzios teve dois apoios em géneros, da Farmácia da Misericórdia de Coruche, que doou alguns cremes e medicamentos para as massagens e de uma empresa do Couço que fez a doação de garrafas de água que foram oferecidas aos peregrinos.
Lamentando a falta de apoios para a realização da missão, “qua vamos conseguindo realizar a atividade com o mínimo impacto possível”, refere Alexandre Tadeia. “É importante que todas as entidades, públicas e não públicas, do nosso concelho percebam que todo este apoio que é feito aqui merece o apoio dos cidadãos de Coruche”, diz-nos, pois esta é também uma forma de apresentar e representar Coruche.
Lamentando que Portugal não tenha uma cultura de voluntariado, que acaba por ser transversal a Coruche, Alexandre Tadeia revela que o trabalho é feito pelos jovens nadadores salvadores, do programa “salvadores juniores”, ou alunos da escola de natação, muitos jovens que ainda não têm 18 anos, mas que ajudam e dão o seu apoio, trazendo consigo também os pais, que se tornam voluntários da associação.
Lesões nos pés são frequentes mas este ano tempo ajudou
A enfermeira Carla Sousa, voluntária da Ordem de Malta, diz ao NS que as lesões mais frequentes entre os peregrinos são as denominadas “bolhas” nos pés, ainda que alguns possam apresentar alguns pequenos cortes nos pés, havendo também alguns casos de queimaduras pelo alcatrão.
“Menos frequentes temos as distensões musculares, os entorses e as contraturas musculares”, refere a enfermeira, que nos diz que este ano “os peregrinos têm tido alguma coisa, porque quando o tempo está muito quente ou chuvoso a situação é mais complicada”.
Apesar de ser um trabalho efetuado por voluntários, todos são enfermeiros ou têm pelo menos socorristas e com conhecimentos que lhes permitem que possam realizar os pequenos tratamentos aos peregrinos.
“A nossa atuação é mais adaptada às questões em que a pessoa está e vai continuar a continuar”, pelo que há a necessidade dos voluntários da Ordem de Malta serem treinados e acompanhados por um enfermeiro.
Associação apoiou mais de 450 peregrinos de 12 grupos
A Associação revelou esta segunda-feira que durante a sua missão de 2025, efetuou o apoio a um total de 457 peregrinos, referentes a 12 grupos.
Foram distribuídas 576 garrafas de água e 418 peregrinos foram apoiados a nível de saúde, com massagem ou tratamentos de enfermagem.
A carrinha da associação percorreu 477 quilómetros, em 16 horas de apoio na estrada.