
Portugal assiste, silenciosamente, ao definhar de um dos pilares da democracia: o jornalismo. Não é um exagero, nem dramatização gratuita. É uma realidade crua que se desenrola a cada dia, perante a indiferença de quem devia proteger a liberdade de informar e ser informado. O jornalismo em Portugal está quase morto — e o Governo limita-se a assobiar para o lado.
A ausência de apoios concretos e eficazes por parte do Estado é um dos sintomas mais evidentes desta agonia prolongada. Não basta proclamar, em discursos vazios, que se valoriza a comunicação social. É preciso ação, investimento, proteção ativa. A verdade é que os meios de comunicação, especialmente os regionais e locais, encerram portas, a despedir profissionais e a desaparecer do mapa informativo do país. E o que faz o Governo? Nada. Absolutamente nada.
Os jornalistas são hoje uma espécie em extinção. Não porque falte talento ou coragem, mas porque lhes falta proteção institucional e condições dignas para exercerem a profissão. O ataque é real: salários precários, contratos miseráveis, pressões externas, ameaças diretas, despedimentos em massa iminentes — tudo isto destrui uma classe que deveria ser respeitada e valorizada.
Mais do que nunca, o jornalismo regional e local, o verdadeiro jornalismo de proximidade, está a ser aniquilado. Com o fecho sucessivo de jornais, rádios e televisões de pequena escala, desaparecem também as vozes das comunidades, a denúncia dos poderes locais, a representação das zonas esquecidas pelo centralismo de Lisboa. Sem jornalismo local, a democracia enfraquece nas suas fundações.
Os próximos tempos auguram o pior. Se nada for feito com urgência, a onda de despedimentos que se avizinha poderá ser um golpe fatal para centenas de jornalistas. Muitos já vivem em condições de sobrevivência profissional, agarrados à vocação e à paixão pela verdade. Mas paixão não paga contas. E sem jornalistas, não há jornalismo. Sem jornalismo, não há escrutínio, não há democracia.
O atual Governo, que se apresenta como defensor da liberdade e da transparência, permanece surdo e mudo perante esta derrocada. Assobia para o lado enquanto um sector inteiro implora por socorro. É uma irresponsabilidade cívica e política de consequências imprevisíveis. A indiferença institucional é uma forma disfarçada de censura — quando não se dá as condições para informar, está-se a impedir a informação.
Este não é apenas um problema dos jornalistas. É um problema de todos. Porque quando o jornalismo morre, morremos todos um pouco com ele. O silêncio da imprensa é o berço da opressão. E Portugal, se não acordar rapidamente, arrisca transformar o jornalismo num capítulo encerrado da sua história democrática.
É tempo de agir. É tempo de defender os jornalistas. É tempo de salvar o jornalismo — antes que seja demasiado tarde.