
Um possível cenário de governo em Portugal envolvendo uma coligação entre a Aliança Democrática (AD), liderada por Luís Montenegro, e o Chega, liderado por André Ventura, desperta um debate intenso e polarizador.
Trata-se de uma aliança que levanta questões de ordem ética, institucional e ideológica.
Por um lado, Montenegro tem procurado posicionar a AD como uma força de centro-direita moderada, alinhada com os valores democráticos europeus. Uma coligação com o Chega — partido frequentemente associado a discursos populistas e até xenófobos — pode comprometer essa imagem e gerar fricções internas no seio do PSD, sobretudo entre os setores mais liberais e social-democratas.
Além disso, a entrada do Chega em posições de poder levanta preocupações quanto ao respeito por direitos fundamentais, independência judicial, e coesão social. O partido de André Ventura tem adotado uma retórica que frequentemente desafia os princípios do Estado de direito e do pluralismo democrático. Governar com o Chega implicaria validar e institucionalizar esse discurso, algo que pode minar décadas de estabilidade democrática e acentuar divisões sociais.
No entanto, há quem argumente que a inclusão do Chega num governo possa “moderar” o partido, responsabilizando-o politicamente. Esta é uma tese arriscada, já que a experiência internacional mostra que partidos populistas raramente abandonam a sua retórica radical após chegarem ao poder; muitas vezes, usam essa posição para ampliar sua influência.
Em suma, uma coligação entre Montenegro e Ventura seria um marco na política portuguesa — não apenas pela sua novidade, mas pelas profundas consequências que pode ter sobre o sistema democrático. A questão que fica é: vale a pena abrir mão de princípios democráticos em troca de governabilidade imediata? A resposta a essa pergunta marcará a trajetória política de Montenegro e, possivelmente, o rumo do regime democrático em Portugal.
TEXTO:
Fernando Silva