Portugal esgotou esta segunda-feira, 5 de maio, todos os recursos naturais que teria disponíveis para 2025, se o mundo inteiro consumisse como os portugueses.

O país entra assim em “dívida ecológica” 23 dias mais cedo do que no ano passado, alerta a organização Global Footprint Network.

De acordo com a associação ambientalista Zero, que comenta os dados da rede internacional, este é o pior resultado dos últimos anos.

Através de um comunicado a associação, ainda admite que os melhores resultados do ano passado refletiam o período, da pandemia do covid-19, periodo em que houve um abrandamento na produção e no consumo.

“Portugal é, já há muitos anos, deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas”, afirma a Zero, em comunicado.

O chamado Dia da Sobrecarga (ou Overshoot Day) representa o momento em que a procura por recursos naturais excede a capacidade do planeta de os regenerar num ano. Em 2024, Portugal atingiu essa marca a 28 de maio.

Este ano, o recuo de 23 dias evidencia um agravamento da pressão ambiental.

De acordo com os cálculos da Global Footprint Network, se toda a humanidade vivesse como os portugueses, seriam necessários cerca de 2,9 planetas Terra para sustentar o atual estilo de vida.

Portugal aproxima-se assim da média da União Europeia, que atingiu o seu Dia da Sobrecarga em 29 de abril.

A associação ainda Zero destaca que o modelo de produção e consumo em Portugal está no centro do problema, a alimentação representa 30% da pegada ecológica nacional, seguida da mobilidade, com 18%.

Além disso, a associação sublinha desequilíbrios na dieta dos portugueses: cada pessoa consome em média o triplo da proteína animal recomendada, metade dos vegetais, apenas um quarto das leguminosas e dois terços da fruta prevista na roda dos alimentos.

Para travar o avanço do Dia da Sobrecarga, a Zero propõe várias medidas, como:

  • Apostar numa agricultura de qualidade, com maior produção de proteína vegetal, proteção dos solos, e uso eficiente da água;
  • Reduzir deslocações e viagens, promovendo o teletrabalho e o uso de transportes públicos;
  • Aumentar os modos suaves de transporte, como bicicleta e mobilidade pedonal;
  • Regulamentar o mercado, exigindo produtos mais duráveis, reparáveis, reutilizáveis e recicláveis;
  • Promover o consumo circular, evitando o modelo de “usar e deitar fora”.

Se formos comparar os dados de Portugal, com os de outros países, podemos ver que, os Países Baixos também esgotaram os seus recursos nesta mesma data, 5 de maio, e tal como Portugal, vivem como se existissem quase três planetas.

Do lado oposto, destacam-se países como o Uruguai, que só atinge o seu Dia da Sobrecarga a 17 de dezembro, e a Indonésia, a 18 de novembro.

O primeiro país a esgotar os seus recursos este ano foi o Qatar, a 6 de fevereiro, seguido do Luxemburgo, a 17 de fevereiro.

A data global do Earth Overshoot Day, que marca o momento em que toda a humanidade entra em dívida ecológica, será anunciada no Dia Mundial do Ambiente, a 5 de junho.

A Global Footprint Network, responsável pelo cálculo, é uma organização internacional de investigação que fornece ferramentas para ajudar a economia humana a funcionar dentro dos limites ecológicos do planeta.

Para saber mais em quais foram os dias em que cada país atingiu o seu limite acesse: https://overshoot.footprintnetwork.org/newsroom/country-overshoot-days/