A requalificação do Complexo Ramalho Barahona marcou um momento simbólico para a Santa Casa da Misericórdia de Évora, mas também serviu de palco para o provedor Francisco Figueira lançar um apelo direto ao Governo: os apoios estatais não acompanham os custos das respostas sociais assumidas pelas instituições.

Foi sob o olhar de várias entidades e com a presença do Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, que a Santa Casa da Misericórdia de Évora inaugurou esta quinta-feira a nova Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) e a Residência Nossa Senhora da Visitação. As novas valências, instaladas no Complexo Ramalho Barahona, representam um investimento superior a cinco milhões de euros, comparticipado maioritariamente por fundos comunitários.

O provedor da instituição, Francisco Figueira, destacou a importância da intervenção para a melhoria da resposta social da Misericórdia: «Este edifício foi de facto muito importante para a vida da Instituição». A nova estrutura permitiu transferir a antiga residência com o mesmo nome, cujas condições eram «graves», e iniciar a requalificação do histórico Recolhimento Ramalho Barahona, reduzindo a pressão sobre a sua ocupação.

Para além da UCCI e da nova residência, a requalificação contemplou ainda a criação de espaços de apoio às atividades da instituição. «Foi possível também proceder ao reordenamento e requalificação do espaço envolvente, bem como neste edifício, criar uma confortável área de apoio ao funcionamento de todas as actividades da Santa Casa da Misericórdia de Évora», afirmou.

Apesar do investimento e da concretização dos projetos, Francisco Figueira aproveitou a cerimónia para alertar para a insuficiência dos apoios estatais às respostas sociais, nomeadamente no setor dos cuidados continuados: «Temos de deixar aqui referido que o valor que o Estado nos transfere nos últimos anos para desempenharmos no terreno um papel que compete ao próprio Estado (…) não é suficiente para a sustentabilidade desta resposta social».

No mesmo complexo, a Misericórdia de Évora já tinha concretizado, há pouco mais de um ano, a ampliação do seu hospital, num investimento de mais de seis milhões de euros. Trata-se de uma unidade hospitalar com 32 camas de internamento e equipamentos como ressonância magnética, TAC, radiologia e ecografia. «É uma referência na região», sublinhou o provedor.

A instituição dinamiza ainda uma unidade de apoio e capacitação para pessoas em situação de sem-abrigo, no âmbito das atividades que coordena no Núcleo de Planeamento e Intervenção dos Sem-Abrigo (NPISA). «Descobrimos já 88 em Évora», referiu.

Em curso estão diversos outros projetos. Entre eles, a criação de uma nova creche e jardim de infância com capacidade para 200 crianças, a ampliação do hospital, a realocação da farmácia comunitária, a instalação de uma residência para estudantes universitários e a ampliação do Museu da Misericórdia. A instituição aguarda ainda a possibilidade de retomar a sede original, instalada por El-Rei D. Manuel I.

Francisco Figueira concluiu com um novo apelo ao Governo: «Precisamos, portanto, de transferir a totalidade dos utentes do edifício do Ramalho Barahona para novos edifícios que vamos ter que fazer. E vamos fazer, com certeza. Podemos fazer mais ou menos rápido. Conto com o vosso apoio».

A cerimónia de inauguração do Complexo Ramalho Barahona assinalou um passo significativo na rede de respostas sociais da Misericórdia de Évora. Mas também tornou evidente que, para sustentar a ambição e dar continuidade às respostas existentes, o apoio do Estado será determinante.